terça-feira, outubro 24, 2006

Passei a tarde no confocal, foi a terceira vez que lá fui, desta vez fiquei sozinha. Foi bom, embora o meu pólen pudesse ter colaborado um pouquinho mais. Saí de lá tarde. Atravessei o campus todinho, de uma ponta a outra, às escuras. Passei pelo carro que faz a escolta aos estudantes. Pensei em pedi-la, mas já estava a meio, já tinha passado a pior parte e, enfim, acho sempre que não me vai acontecer nada. Não aconteceu. Perdida no meio dos recantos escuros e silenciosos, perdi-me em pensamentos, o costume. Se há coisa que não consigo é esvaziar-me de ideias. Ao puxar o cabelo para trás senti um cheiro familiar, não era o típico cheiro a luvas que me persegue no dia-a-dia, lave-se ou não as mãos, era o de óleo mineral. Não, não estavam assim sujas, mas o cheiro entranha-se, e apercebi-me de que ela já não me seduz. A Biologia Celular. Durante algum tempo entranhou-se em mim, era o que queria para sempre, seria o meu futuro, seria Bióloga Celular (isto diz-se?), agora não. Os microscópios são passado no meu presente, e quando são presente, como hoje, só o são para puderem vir a ser passado, morto e enterrado.
Hoje dei por mim a dizer “I hate Biology!”. Repensei no assunto e acho que não estou muito longe disso. O curso que me apaixonou, que eu jurei ser o curso da minha vida, convicta de que o era, é hoje fonte de problemas, de distâncias inoportunas, de dificuldades, e não me refiro às científicas, se bem que essas também estão presentes. Quando entrei para Biologia li um panfleto que dizia que ninguém vai para Biologia por acaso, que quem escolhe Biologia é porque sempre quis ser Biólogo. Eu não. Fujo à regra. Eu nunca quis ser Bióloga. Fui lá parar porque não consegui ir para o que queria. Não sou excepção. Depois do primeiro ano, quando desisti de tentar o outro curso, embrenhei-me numa missão: convencer-me de que queria ser Bióloga. Aconteceu na Arrábida, numa praia quase vazia, enquanto mergulhava numa maré baixa à procura de ouriços-do-mar, não os comuns, mas uns fósseis que se encontram lá (um fóssil de Equinóide, chamado Hemiaster). Imaginei-me Bióloga Marinha, coisa que não sou hoje, nem vou ser.
Apercebi-me de que o texto já vai longo, não tanto como as ideias que se desenrolaram durante o percurso ao longo do campus, mas longo. Queria acabar com uma qualquer conclusão lógica, mas parece-me que não há. Lógica é coisa que não abunda nos meus dias, que se afundam em porquês e vontade de acelerar o relógio do tempo e, ao mesmo tempo, regressar aos bons momentos do passado. O presente é que não. Estou num impasse e não vou conseguir ultrapassá-lo sem passar por ele, pelo que, não havendo volta a dar-lhe, à que puxar de sorrisos e dizer-lhe adeus, à medida que o ultrapasso, qual ultrapassagem a um Ferrari ao volante de um Porsche. Porque é que me deu para falar de carros? Não sei.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu queria ser cientista, sempre o quiz. Foi com o passar dos anos que descobri que o meu interesse era mais pelas biologias e químicas, do que as físicas e as matemáticas, que eram as ciências em que eu era realmente BOA.

E hoje aqui estou, como tu, quase a odiar isto, a gostar disto cada vez menos a cada dia que passa, a contar horas para os dias chegarem ao fim, a contar os dias para os meses chegarem ao fim, a contar experiências para o trabalho chegar ao fim. Listas e mais listas. Vivo de horários e de listas.

Sinto-me triste por estares perdida como eu. Mas confesso que me sinto aparada. E como! Parece que escolhemos viver mesmo (quase) tudo ao mesmo tempo, ehehe...

Ânimo! ISto acaba em breve e o futuro é feito de sonhos cor-de-rosa...:)