quinta-feira, dezembro 29, 2005

Colecções

Há quem coleccione selos, canetas, relógios, calendários, eu colecciono frases. Encontrei uma muito boa, pela qual poderia reger a minha vida:

Life is not measured by the breaths we take, but by the moments that take our breath away.

Não sei de quem é, provavelmente de alguém que a seguia à risca e a quem pouco importava que os outros soubessem que a frase era sua.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Post Scriptum

Porque faço muito uso dele, reservo-lhe, hoje, um post! Foi criado para colmatar esquecimentos, mas assumiu vida própria. O PS, nos dias de hoje, deveria ter outro significado. Na era dos e-mails podemos sempre acrescentar texto mesmo depois de assinarmos, não o fazemos propositadamente, porque queremos dizê-lo em PS. Porque Sim. Porque Sei que essa vai ser a última coisa que o outro vai ler, e provavelmente a que vai reter. Fica aqui a tributo ao PS, que uso muitas vezes para dizer as coisas mais importantes e que já me disse tantas coisas que queria “ouvir”!

Tolerância de ponto

Porque ontem foi Natal, resolvi dar-me a mim própria um presente extra e, aproveitando a tolerância de ponto, hoje não fui para o laboratório. Fui à Ericeira. Estava a chover, mas nem mesmo debaixo de uns aguaceiros antipáticos desisti de ver o mar, não um mar qualquer, mas o mar da Ericeira. Conheço-lhe o cheiro, as cores, e as marés, sei onde são os melhores lugares para nadar, os lugares a evitar e não consigo passar muito tempo sem o ver. Desde que nasci que a Ericeira é destino de fim-de-semana e aprendi com o meu avô materno a amá-la (há quem a deteste!). Durante muito tempo disse que iria viver para lá, hoje já não faz parte dos meus planos a curto/médio-prazo, mas um dia talvez acabe os meus dias a ver o pôr-do-sol na praia que me viu crescer.

domingo, dezembro 25, 2005

É Natal

Pois é, mas quase não dei por ele. Sempre fui fã do Natal, quando era pequena participava activamente na decoração da casa dos meus avós, onde costumava passar o Natal. Hoje já não passo lá o Natal e este ano, em particular, nem a árvore de Natal fiz (fez a minha mãe, após muito insistir comigo de que estava na altura de a fazer). Dizem que quando crescemos o Natal deixa de assumir a importância que enquanto crianças lhe damos, talvez seja essa a razão para o desinteresse, talvez não, a verdade é que este foi o Natal menos natalício que já tive. Continuo, no entanto, a gostar de músicas de Natal. Gosto de música, hei-de gostar sempre de músicas de Natal!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Regresso ao “lab”

Foram só três meses fora, mas quase me sinto uma estranha no “meu laboratório”, aquele que vi nascer desde pequenino. Foi bom reencontrar os meus colegas daqui, mas estaria a mentir se dissesse que não sinto falta do meu laboratório emprestado de Reno e dos colegas e da agitação de um laboratório grande. O regresso é mais que certo.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Hoje era o dia oficial da minha chegada. Se ontem só duas ou três pessoas deram pela minha chegada, hoje choveram telefonemas. Ainda que todos me façam as mesmas perguntas, o que me obriga a dizer a mesma coisa muitas vezes, é bom estar de volta.

Ainda me doem os braços!

quinta-feira, dezembro 08, 2005

It’s the little things!


À chegada a casa fui surpreendida com algo que os meus pais preparam para mim enquanto estive fora. Não era um carro novo, ou uma decoração nova no quarto (ainda bem!), era uma coisa muito mais simples, que eu lhes pedia há já uma eternidade: o jardim relvado (por enquanto só metade!). Adoro o verde da relva, o cheiro dela quando cortada e as gotinhas de água a escorregarem pelas folhas após ser regada. Definitely, it’s the little things!

quarta-feira, dezembro 07, 2005

De regresso a casa

Finalmente, o dia de regresso. Havia algum entusiasmo, mas o sentimento de que estava a deixar muito para trás era evidente. O meu primeiro voo era às 6:50am. Pelas 5:30am estava eu e o Scott sentados em cima da minha mala a tentar fechá-la. Depois de tirar algumas coisas, conseguimos! Foram levar-me ao aeroporto e a despedida quase que foi molhada com algumas lágrimas, mas foi selada com um “See you soon”. Fiz o check-in do voo Reno-Salt Lake City e pediram-me que abrisse a mala (a mesma que tinha requerido que eu e um rapaz de mais de um 1,80m nos sentássemos em cima dela para a fechar!) porque algo estava errado! Perguntaram-me se tinha livros na mala, disse que sim, e disseram-me que o alarme toca sempre que são detectadas grandes quantidades de papel. Abri a mala, onde tinha dezenas de tubos com coisas que trazia do laboratório(!). A segurança passou com o detector de metais por entre os livros e disse-me que podia voltar a fechar a mala. Foi fácil! Uff! Entretanto a pessoa que estava ao balcão sugeriu-me que alterasse o meu segundo voo de SLC para NY para mais cedo, para não ter de esperar no aeroporto de SLC um dia inteiro. Alterei. Assim apanharia um avião para NY assim que chegasse a SLC e chegaria a NY às 4:30pm em vez de chegar às 11:30pm. O que era bom, já que tinha deixado para os últimos dias a marcação de um hotel em NY e não tinha conseguido, até ao momento, achar um hotel próximo do aeroporto que me custasse menos de 500 dólares! O meu plano era passar a noite de 7 para 8 num hotel do aeroporto e passar o dia seguinte em NY (o meu voo para Portugal era às 6:30pm do dia 8). Mas sem hotel, cansada e com a possibilidade de apanhar um voo para Portugal ainda no dia 7 (cheguei lá às 4:30 e havia lugares disponíveis no voo desse dia), troquei NY por uma chegada mais cedo a Portugal?! A viagem correu bem, mas não consegui dormir, em parte devido à senhora que se sentou ao meu lado, que passou o tempo a verificar se tinha o cinto bem colocado, para o que tinha sempre que me tocar no braço, e que o apertava mais cada vez que nos pediam que apertássemos os cintos!?
Já em Lisboa deram-me as “boas-vindas” com uma simpática espera de quase 45 minutos pela minha mala, mas que foi compensada pelos abraços quentinhos dos pais e avó que me foram buscar ao aeroporto.

terça-feira, dezembro 06, 2005

I’ll miss you

Na minha última noite em Reno assisti a um filme, que o Scott, a Amy e o Shawn acham muito engraçado, mas ao qual eu não achei piada nenhuma! Também, isso pouco interessava, o que interessava é que estávamos juntos. Despedi-me do Shawn, um amiguinho especial e passei longos minutos a falar com o Scott e a Amy antes de me ir deitar. Disseram-me que a casa ia ficar vazia sem mim. Eu também vou sentir a falta deles.

Snow(&)board(*)

Hoje foi o meu último dia aqui. Ontem o Jeff perguntou-me se eu já tinha feito algo nos USA que nunca tivesse feito noutro sítio qualquer, como beber root beer ou caminhar sobre um lago gelado!? Disse que não. Dois colegas meus “resolveram” que eu não saía de Reno sem esquiar. Pediram ao Jeff para me “raptarem” na terça de tarde para me levarem até um dos muitos resorts de esqui existentes aqui nos arredores. De manhã fiz tudo o que me faltava fazer e pela 1:00pm estávamos todos prontos para subir até NorthStar. Pelas 2:00pm eu e o Shawn chegávamos ao local combinado (o Steve tinha ido até à cabana dos pais, no Lake Tahoe, buscar o equipamento dele). Durante a viagem combinei com o Shawn que iríamos fazer uma aula de esqui. O Shawn pratica snowboard há uns 8 anos, mas nunca esquiou, pelo que seria a nossa primeira vez. Quando lá chegámos a última aula de esqui do dia já tinha começado. Não iríamos poder inscrever-nos. Pedi para esperarmos pelo Steve, que pratica snowboard, mas que esquia desde os 4 anos. Ele podia ensinar-nos, mas como ele não aparecia decidi-me a experimentar snowboard. A primeira dificuldade foi escolher o tamanho da prancha e qual o pé que colocaria à frente. O Shawn fez-me o “push test”; empurrou-me pelas costas e viu qual foi o pé que coloquei à frente. Foi o direito. Escolhi o direito, o que é o mesmo que dizer que sou “goofy”, se tivesse escolhido o esquerdo era “regular”. A segunda dificuldade foi calçar as botas. Botas calçadas e prancha na mão, decidimos não esperar pelo Steve e apanhámos o teleférico até à pista para principiantes (para mim!). Já com a bota direita “presa” à prancha tive a minha primeira lição: como deslizar (é tipo skate, nada de especial) e como parar (lição “muito” importante!). Deslizei até às cadeirinhas que nos levam até ao cimo da pista, sem antes ter o meu primeiro “deslize”. O Shawn disse-me como sair da cadeira, mas eu, tal como todos os outros na minha situação, não “resistimos” a sentir a consistência da neve no cimo da pista assim que lá chegamos. Caí ao descer, mas até não foi muito mau, porque antes de cair ainda esquiei um bocado, de maneira que não cai no caminho da cadeira, ou seja, não fiquei no caminho dos que vinham atrás de nós! Ainda só com uma bota presa à prancha deslizei até ao início da pista, sem mais quedas. Tive mais umas aulas com o Shawn, pratiquei as “travagens”, aprendi, na teoria, como me levantar e… sentei-me, estava na altura de prender a outra bota à prancha. O Shawn tinha-me avisado de que era mesmo estranho estarmos com os dois pés presos a uma tábua, mas não achei muito mau… até tentar levantar-me! É que levantarmo-nos com uma prancha presa aos pés numa superfície inclinada não é fácil, não é nada fácil! Lá consegui manter-me uns segundos em pé, deslizar alguns metros até à minha primeira queda digna de registo. Doeu! O Shawn comentou comigo que daria jeito aos snowboarders usaram fraldas (conseguem imaginar onde é que nos aleijamos?), também me disse para tentar cair para trás apoiando-me nos cotovelos, para evitar magoar-me nos pulsos. A maior parte das vezes caí sobre os pulsos, mas como sei parar bem (haja alguma coisa que saiba fazer bem!), consigo cair de forma mais ou menos elegante (se é que existe algo de elegante em cair!) sem me magoar. Após umas tentativas frustradas para me manter em pé em cima da prancha, comecei a sentir uma dor num tendão do pé direito (costumava-me acontecer isto quando nadava, é um qualquer movimento do pé que o provoca). Fiquei sentada durante uns minutos até me passar. Passou. Voltei a tentar, voltei a cair e começava a ficar com os braços cansados de fazer força para me levantar. Um dos empregados do resort que estava a uns 100 metros de mim, disse-me qualquer coisa, mas não percebi. Veio ter comigo e disse-me que o truque era ficar em “tiptoes”, prendeu-me a prancha com o pé dele, para eu me levantar, o que deu imenso jeito, levantei-me e experimentei o que ele me disse, mas manter a posição “upright” por muito tempo foi algo que não aconteceu, voltei a cair e nesse momento um instrutor de snowboard parava mesmo ao meu lado com a sua aluna. A lição do momento era como se levantar a meio da pista sem escorregar. Fixe! Era mesmo isso que precisava aprender. Sugeriu-lhe que se tentasse levantar de costas para a pista. Eu e ela estávamos de frente, pelo que precisávamos de nos virar de costas. Não é simples quando temos os nossos pés presos a uma prancha com 1,50m. Observei como é que ele lhe disse para fazer e qual o truque para se levantar. Quando se afastaram o Shawn chegou ao pé de mim e ajudou-me a tentar fazer o que eu tinha acabado de aprender. Não gostei muito da sensação de estar de costas para a pista, mas que é mais fácil, é. Mais uns segundos em pé, mais umas quedas e já estava a ficar escuro (as pistas estavam quase a fechar). “Enough is enough” e desisti, fui sentar-me num sitio muito agradável, enquanto esperava que o Shawn chegasse de uma das pistas para… avançados! Ele chegou e fomo-nos embora. Encontrámos o Steve à saída!
Tirando os braços cansados foi mesmo muito bom. Da próxima vez experimento com o pé esquerdo à frente, acho que escolhi mal (como é que podia ter feito algo de jeito se escolhi ser “goofy” em vez de “regular”?! :)

(*) “Snow & board” porque havia neve e uma prancha, mas snowboard, viu-se pouco!

segunda-feira, dezembro 05, 2005

See you soon?

Hoje foi a minha despedida oficial. Fui almoçar com o Jeff e alguns colegas do laboratório. Foi bom sentar-me ao lado do Jeff, melhor ainda, sentir-me ao lado dele. O resultado da conversa ao almoço e da que se seguiu no laboratório resume-se a um pedido muito simples; “Assim que chegares a Portugal começa a tratar do visto para voltares.”. Sei que posso evoluir muito mais na área em que estou a trabalhar agora ao lado dele, mas aqueles que amo, que estão em Portugal, ainda me fazem hesitar na decisão… tomada.

Gingerbread house


Começámos às 10.15pm, acabámos quase às 2:00am. Divertimo-nos imenso ao fazê-la, experimentámos vários designs, acabou por ficar assim. Achamo-la “cute”. O Scott acha-la apetitosa.
A construção da casa não se resumiu a colocar as paredes em pé e a dar-lhe um telhado decorado com peças coloridas, foi o estruturar de uma amizade que fica para sempre (ao contrário da nossa gingerbread house!). A Amy não vai ler isto, mas também não precisa, porque sabe.

As fotos podem estar desfocadas, mas a casa está perfeita e… cheira mesmo bem!

domingo, dezembro 04, 2005

San Diego at a glance









26 de Novembro

Forecast
Embora as previsões meteorológicas não fossem as melhores para quem pretendia atravessar montanhas, combinámos, eu e o Shawn, que ele me iria buscar a casa às 7:00. Chegou atrasado uns 15 minutos (enquanto esperava reparei na neve que tinha caído durante a noite; muita!). Também tinha ficado combinado que passaríamos pelo laboratório para regar umas plantas e vermos as condições meteorológicas. Ele telefonou para um serviço de informação actualizada sobre as condições das estradas. A 395 estava transitável. Confirmei com o Shawn se estava mesmo disposto a “arriscar” não conseguir voltar a Reno (já lhe aconteceu!), se continuasse a nevar no fim-de-semana. Ele disse que sim (eu voltaria de avião). Saímos do laboratório, como entrámos, debaixo de neve, e fizemo-nos, literalmente, à estrada. Em Reno nevava imenso. Informou-me que tinha gorros, luvas, comida e mais uma série de coisas para os dois, caso ficássemos presos algures! Mas não foi o caso. Durante as primeiras milhas nevou, mas depois parou e o dia nasceu absolutamente radiante, com o sol a bilhar num céu azul.

Deserto
A paisagem à saída de Reno e durante muitas, muitas milhas foi a de… Reno! Castanha e não muito interessante de um lado e bonita do outro, com montanhas altas cobertas de neve. À medida que o número de milhas percorridas ia aumentando, a paisagem ia modificando-se e entrávamos no verdadeiro deserto. Não o “deserto típico”, em que só se vê areia, mas o típico desta região. Que é seca, embora por vezes rasgada por um ou outro rio, e coberta por arbustos rasteiros.
Estava sol, não nevava, mas estava imenso vento. Aquela imagem típica dos filmes, quando alguém atravessa o deserto, a de pequenos (ou não!) arbustos a voar, acompanhou-nos durante muitas milhas.

Mono Lake
Estávamos a uma altitude elevada quando nos aproximávamos do local da nossa primeira paragem. Desfazíamos uma curva quando o lago nos apareceu à frente, no vale. Paisagem fantástica! Mono Lake é um lago de água salgada, mais salgada que a do mar, onde se podem observar umas formações constituídas por sais, tufas. Umas milhas depois, após um desvio à 395, e estávamos na margem do lago. Diziam para colocar a mão na água e sentir o quão densa é e para prová-la. Provei. Não ficámos lá muito tempo. Estava muito vento e muito frio. Havia pessoas enroladas em cobertores!

Hot Creek
Continuámos a nossa roadtrip. Deserto e mais deserto, milhas e mais milhas e chegávamos às Hotsprings de Hot Creek. Ficam num vale, por onde corre um rio, cujas águas são aquecidas pelas nascentes de água quente daquela região vulcânica. A actividade vulcânica da região manifesta-se sobre a forma de hotsprings, geysers e fumarolas. Sentia-se o cheiro a enxofre, mas não era muito forte. Estacionámos o carro e voltámos a enfrentar o frio que se fazia sentir lá fora, não que a temperatura estivesse muito baixa, mas estava muito vento. Há medida que íamos descendo até ao vale, o vento fazia-se sentir cada vez menos. As fotos que vi num guia fizeram com que as minhas expectativas para aquele local fossem elevadas. Foi uma decepção. Não achei nada de especial, com excepção da cor das algas que existiam no rio. Ainda que dificilmente alguma vez entrasse na água, como algumas pessoas fizeram, acho que deve ser a melhor coisa que aquele local tem para oferecer. Voltámos para o carro. Próxima paragem: Hot Creek State Fish Hatchery, local onde se faz aquacultura. O Shawn gosta de pescar (fá-lo com um anzol que não magoa os peixes e depois devolve-os ao rio!) por isso parámos lá, mas a época de pesca encerrou, pelo que se limitou a observar!
Mais umas milhas e parámos num restaurante em Lone Pine, o The Mt. Whitney. Tem o nome de uma das maiores montanhas dos USA. Restaurante muito frequentado pelos que vão até esta região para fazer treking e alpinismo. Demorámos tempo demais no almoço. Perdemos tempo. Já não iríamos apanhar a estrada junto à costa, que, segundo ele, a cada curva que se faz/desfaz, deparamo-nos com uma paisagem fantástica, porque ia ficar escuro e não poderíamos usufruir a vista. :( Fica para a próxima.

Perguntei-lhe se estava cansado, ao que me respondeu que adora conduzir e, que, embora não tenha dormido bem, não estava nada cansado. Não ousei perguntar se me deixava conduzir um bocado. Fica, também, para a próxima.

Assistimos a um pôr-do-sol pouco interessante e já bem de noite, mas ainda cedo, talvez às 9:00pm chegámos a San Diego. Agradeci ao Shawn a roadtrip, que não foi tão fantástica quanto isso, mas a culpa não é dele, e ele deixou-me no local combinado com a Sabine, com quem ia ficar o fim-de-semana. Ela vai publicar o artigo que eu queria publicar, mas gosto dela! Uma alemã, “casada” com um alemão, que trabalha no mesmo sítio que ela, na UCSD, num laboratório conceituado. Tinha planeado passar a primeira noite num hotel ao pé da praia, mas a Sabine insistiu que ficasse com ela e acabei por ficar. Tem um apartamento em La Jolla, arredores de San Diego, pequenino, mas muito “cozy”. Ficámos a conversar até quase às 2:00am, sobre trabalho, sobre o laboratório, sobre tudo e sobre nada. Damo-nos mesmo bem, teríamos ficado até à manhã seguinte, mas tínhamos combinado acordar “cedo”, às 9:00, para fazermos uma tour pela cidade.

27 de Novembro

Acordei antes do despertador, entretive-me a ler os títulos dos livros que ela tem, são maioritariamente guias. Ela e o Josef fazem treking e já conhecem os USA praticamente de uma ponta a outra. Atravessaram desertos, subiram montanhas, apanharam uns sustos, mas voltavam a repetir, se calhar com mais um litro de água (já explico).

La Jolla
Disseram-me para dizer a que sítios é que queria ir, que seria lá que iríamos. Assim foi. A primeira paragem foi no Birch Aquarium no Scripps Institution of Oceanography. Queria lá ir pelas medusas e pelos cavalos-marinhos. Valeu a pena pelas medusas, pela vista, mas pelos cavalos-marinhos nem por isso. O Scripps Institution of Oceanography fica situado à beira-mar, num sítio absolutamente fantástico. Na livraria comprei um calendário lindo onde não há criaturas marinhas, mas lá que andam na água andam (o que será?) :) e um livro que explica o que a cor e formato das nuvens representam. Interessante.

O Pacífico
Já eram 12:00 quando saímos do aquário, pelo que decidimos ir almoçar. Perguntaram-me o que é queria comer, respondi em forma de pergunta “O que é que é típico de San Diego?, responderam “Fish tacos”, pelo que foi isso que comi. Fomos a um dos melhores sítios para se comer os ditos. Fomos ao Wahoo’s, um bar de surfistas, muito ao estilo do nosso Peter Café Sport. Não comemos lá, pedimos takeaway e fomos almoçar junto à praia em La Jolla Shores. Desta vez sim, tinha o Pacífico à minha frente. É diferente do Atlântico num pormenor, que é muito provavelmente ilusão de óptica, parece que sobe, que está inclinado para cima… se calhar é só impressão minha! As ondas não estavam muito boas, não havia muitos surfistas, mas havia imensa gente na praia. Estava sol, céu limpo, um dia extraordinário. A Sabine disse que na Alemanha se diz que “When angels are traveling, the weather is good”! :) No dia anterior tinha chovido imenso. Deixei Reno debaixo de neve e trouxe o sol a San Francisco no fim-de-semana passado e a San Diego neste! Continuando. Almocei um fish taco com arroz e feijões, sem picante! Gostei! Após o almoço descemos até à praia, que é igualzinha “à minha praia” na Ericeira, as rochas, as algas castanhas, o cheiro, as ondas. Não é por acaso que ambos os locais são bons spots para a prática de surf (a quem interesse, o melhor spot fica na Pacific Beach)! Experimentei a água, estava boa! Apetecia entrar. Havia quem o fizesse. Fomos até à Children’s Pool, mesmo ao lado. Há uns anos atrás construíram uma barreira para criarem uma zona sem ondas para as crianças, mas os leões-marinhos apoderam-se da zona e agora a praia é só deles. Gostei de os ver.

Mount Soledad e Point Loma
De La Jolla Shores fomos até ao Mount Soledad, de onde se tem uma vista de 360º sobre toda a cidade, vertente mar e vertente terra. Local para as típicas fotos panorâmicas. Vi onde fica o Salk Institute of Biological Studies, e invejei a localização! Do Mount Soledad fomos para Point Loma, que fica na ponta de uma pequena península, para lá chegarmos temos de atravessar território militar, cujos portões fecham às 5:00pm, se alguém ficar do lado de lá, lá fica. De Point Loma vê-se a Mission Bay e os milhares de veleiros que lá estão atracados e a base militar onde foi filmado o Top Gun. É em Point Loma que está uma estátua de João Rodrigues Cabrilho/Juan Rodriguez Cabrillo. Para os portugueses ele era português, para os outros era espanhol. Foi o primeiro navegador europeu a pisar a costa oeste americana. A expedição era espanhola, mas um historiador defende que ele era português. Para mim o João/Juan era português, parece-me muito mais fácil que alguém tenha traduzido o nome para espanhol e criado a confusão do que alguém o ter traduzido para português!
Tinham-me dito que Point Loma era o melhor local para ver o pôr–do-sol, mas como se tem de sair de lá às 5:00, e havia outras coisa para ver, não esperámos.

De lá fomos para o Balboa Park, uma local onde existem vários museus em edifícios construídos para parecem antigos. Para uma europeia que conhece várias cidades onde os edifícios são mesmo antigos (!?) aquilo é, no mínimo, deprimente. Do Balboa Pak fomos para a baixa de San Diego. Uma “baixa” típica, com lojas e restaurantes. Foi aí que assistimos ao pôr-do-sol, foi dos bons, embora o local não fosse o melhor.
Próxima paragem, Old Town. Mais uma vez, de “old” esta zona, só tem meia dúzia de edifícios, se é que tem meia dúzia. É uma zona turística, com restaurantes e lojas mexicanas. Pretende representar a antiga povoação de San Diego. Procurámos um restaurante para jantarmos, mas só havia mexicanos e eu não estava para aí virada. Fomos a um italiano que eles conheciam, Caffé Bella Itália. Muito bom.

Depois de um dia bem preenchido regressámos a casa. Mais uma vez ficámos a falar até tarde. Desta vez, para variar, foram gossips do laboratório e viagens. As que fizemos, as que pretendemos fazer, o que correu bem, o que correu mal. Já tiveram problemas com água no deserto, pouca, e em florestas tropicais, muita. Fiquei a conhecer os materiais que quem faz treking utiliza, contra ventos e tempestades. O que se usa para o frio, para o calor, a roupa interior que seca quase instantaneamente. Sei que um blusão deve ter três camadas (o material é o Gore-Tex), que devem ser “coladas” para que não se desfaça por causa das alças da mochila.

28 de Novembro

De manhã fui até à UCSD, ao laboratório da Sabine, para trocarmos informações sobre o nosso trabalho e eu ver as plantas dela, depois ela foi levar-me ao SeaWorld Adventure Park. De entre os três parques que existem em San Diego, tive de escolher um. Um exclui por ser longe da cidade, e entre o Zoológico e o SeaWorld… sou mais água que terra, e depois, já vi pandas (a grande atracção do Parque Zoológico de San Diego), mas nunca vi orcas, como tal, foi ao SeaWorld que fui. Entrei por volta das 11:00, dei uma vista de olhos pelo mapa, escolhi o horário dos shows a assistir, de forma a conseguir vê-los a todos, e a diversão começou! :) Ficou muito abaixo das minhas expectativas, mas ainda assim foi um dia muito bem passado. Ri-me com o show dos leões-marinhos, com um show que não tem nada da a ver com o SeaWorld, mas que é o máximo, com cães e gatos (Pet’s Rule!); entediei-me na Haunted Lighthouse 4-D; não queria acreditar que o show Dolphin Discovery fosse só aquilo (mil vezes melhor o do Jardim Zoológico de Lisboa, e o do Zoomarine, que recomendo vivamente); gostei do Shamu Adventure. Nunca tinha visto orcas, por isso foi interessante, mas claro que as preferia ver no estado selvagem. São bem giras! Vi mais umas espécies que nunca tinha visto, mas a parte verdadeiramente emocionante ficou para o fim. Sempre fui apaixonada por golfinhos. Por mais banal que isso seja, não me interessa, eles são mesmo queridos e pronto. Estive quase uma hora junto ao tanque de interacção com golfinhos, talvez com 1,20m de altura, onde estão dezenas deles, mesmo ali ao pé de nós. Os treinadores ensinam-nos o gesto para os chamar e depois é só deliciarmo-nos com eles. Por mais que isto não seja natural e se pense que nenhum animal possa ser feliz num sitio assim, eles pareciam-me tão deliciados como eu e, depois, eles já nasceram ali (a propósito, o SeaWorld, tem uma taxa de reprodução, das espécies que aloja, invejável!), e aprendem a tirar partido da interacção com o público, os peixinhos que lhe damos e a atenção. Tenho a certeza que gostam, nenhum animal pode parecer tão bem, como eles parecem, se não estiver realmente bem. Não estou a dizer que não seriam mais “felizes” em mar aberto, mas as coisas são como são, e a realidade deles é aquela. Só saí de lá porque tinha uma avião para apanhar.

Porque nem tudo pode correr bem…
Apanhei um táxi até ao aeroporto de San Diego, que fica no meio da cidade. Coloquem um aeroporto na Avenida da República, em Lisboa, e podem imaginar o estranho que é. Se acham que os aviões em Lisboa já passam muito perto de alguns edifícios, dividam a distância por dez e vão ficar com uma ideia do que acontece em San Diego.
Entrei no terminal da Southwest e fui fazer o check in, estava já a guardar o passaporte e o senhor do balcão tinha acabado de dizer “Thanks Ma’am”, quando me diz “Wait, your flight was canceled”. Quase me ri na cara dele! Limitei-me a um “Why?!”. Problemas de tráfico e técnicos, foi a resposta. Parecem-me problemas em demasia! Anyway. Disse-me que me punha no próximo voo para San José e de lá voaria para Reno. O voo partia em 20 minutos, por isso o senhor do balcão foi comigo até à segurança, passou-me à frente das outras pessoas, e cheguei a tempo à porta de embarque, tive tempo de comprar um mapa que queria e ainda tive de esperar um bom bocado. Chovia imenso em San Jose, a aterragem foi má. Aterrei à mesma hora que devia estar a levantar voo para Reno, sai de um avião e entrei directamente no outro. Mais uma vez a aterragem, em Reno, não foi das boas, mas nada de especial. Ao aterrar pude ver as casas e ruas “brancas de neve” e as luzes de Natal. Cheguei mais cedo do que o previsto, pelo que tive esperar no aeroporto que o Scott acabasse as aulas para me ir buscar.

Gostei mais de San Francisco pela cidade em si, porque é cosmopolita e eu gosto de cidades assim, mas San Diego, tem praias muito giras e um ambiente mais descontraído, que me agrada. Se tivesse de escolher, acho que escolhia San Francisco para morar e San Diego para os fins-de-semana!
Legenda das fotos:
1. Mono Lake
2. Scripps Institution of Oceanography
3. Pôr-do-sol em San Diego
4. Shamu
5. o meu sorriso era igual ao dele :)

Saturday night

Os meus últimos dias têm sido algo preenchidos. Não tenho tempo para mim, para as coisas que ainda tenho que fazer no laboratório, nem para o blog. Mas hoje tinha de escrever qualquer coisa. Porque sim, porque me apetece.
Ontem passei o dia no laboratório. A noite no Zephyr. Um bar pequenino, com uma decoração, no mínimo, original, com pouca luz, muito fumo e música alta. É um daqueles bares onde tocam bandas de garagem, mas já com CDs. Gostei das duas de ontem. Fui lá com pessoas dos laboratórios vizinhos, um deles conhecia o dono e como tal entrámos sem pagar, sem ter de mostrar ID e ainda fomos apresentados aos membros de uma das bandas. Ao mesmo tempo que fui apresentada a uma série de pessoas, também me despedi delas. A maioria era muito simpática, se bem que a palavra certa para os descrever talvez seja cool. Na maioria eram snowboarders e americanos, mas havia um tunisino, um chinês, um francês e uma alemã, a única rapariga para além de mim. Foi a minha festa de despedida não oficial (a oficial, com o PI do meu laboratório, será segunda). Bebi mais do que devia (cerveja Sierra Nevada e Roman Coke, que na verdade se devia chamar jack and coke, porque Roman Coke vem de rum-n-coke, que é, como o nome indica, rum e Coca-Cola, a minha bebida era Jack Daniel’s e Coca-Cola), mas em qualquer momento disse ou fiz algo que não devia, mas deu para perceber que foi demasiado. Ontem não foi um dia fácil.
Em todos os sítios do mundo isto acontece, mas ontem à noite pude perceber e “sentir” o que é que as pessoas querem dizer com: “os americanos saem às sextas e sábados à noite com o objectivo de arranjarem alguém”. Em todos os lados existem as trocas de olhar, o olhar insistentemente para a rapariga para ver se cruzam o olhar, sorrir e depois começar uma conversa. A parte da conversa é importante, não tanto pelo que se diz, mas como se diz. Como há pouca luz e dificilmente nos conseguimos ouvir, o rapaz chama a atenção da rapariga tocando-lhe no braço, costas, ou cintura, depois há que falar ao ouvido, e, por fim, mantê-la junto a ele, agarrando-a na cintura, costas, ou, os mais ousados, no pescoço. Perdi a conta ao número de vezes que me disseram: “So, you’re from Portugal!”! Mas foi divertido. Foi como voltar uns anos atrás no tempo e imaginar-me numa festa de aniversário de uma colega do secundário. Foi engraçado perceber como estou “crescida”, como não me incomoda se um rapaz está a olhar, se me toca mais do que o necessário, se fala colado ao meu ouvido. Um sorriso, um passo para o lado oposto e começar a falar com outra pessoa resolve a situação. Tested and proved.

sábado, novembro 26, 2005

Neve

Neva imenso em Reno e eu vou atravessar a 395 até San Diego! Great! Espero nao ficar presa num sítio qualquer e passar a noite no carro! Se calhar vou ter mais uma história para contar! Quando fui a San Francisco quase perdi o meu voo, vamos ver o que me acontece desta vez!

sexta-feira, novembro 25, 2005

Fenómenos da Natureza


Quem me conhece sabe que sou muito ligada à Natureza (com letra maiúscula, que foi assim que aprendi a escrever na escola primária). Gosto da Lua, do Sol (do nascer e do pôr), adoro o mar, sorrio ao ver um arco-íris. Sorri quando vi o da foto, o que vi ao sair de casa e um outro há bocado, mas às vezes a Natureza pode ser mesmo antipática. Amanhã vou (ia?) para San Diego. Uma viagem de 10 horas por estradas que atravessam montanhas, por vezes algo sinuosas. Acontece que hoje está a chover e amanhã prevêem queda de neve, o que transforma paisagens quase desérticas em paisagens de sonho, e estradas em pesadelo. O dono do carro tem correntes para a neve, mas mesmo assim está a procurar percursos alternativos e a ponderar a ideia de não ir. Até não me chateia muito, mas detesto planos alterados na véspera.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Thanksgiving Day

Fiz um pequeno inquérito e este feriado americano foi eleito como o preferido pela maioria dos inquiridos, porque se comem muitas coisas boas, como no Natal, mas não há o stress de comprar presentes. De manhã fui para o laboratório e as pessoas com que me cruzei desejavam-me, sorridentes, um Happy Thanksgiving, agradeci e retribui, mas a verdade é que não consigo sentir nada de especial em relação a este dia, ainda assim, fui almoçar em “família”. Tinha planeado passar o dia no laboratório, porque achava que a refeição em família era o jantar, mas a Amy disse que não almoçava enquanto eu não regressasse a casa, pelo que à 1:00 sai do laboratório. Para o almoço estavam convidados, para além de mim, a residente, mais dois colegas do laboratório, um americano e um japonês. Almoçámos às 4:00! Thanks God que comi a meio da manhã! E porque é que só comemos às 4:00? Porque neste dia há sempre um jogo especial de futebol americano! Enquanto assistimos ao jogo, que até foi interessante, depois de recusar algumas vezes acabei por aceitar experimentar uma Bass. Até não é má, mas não é nada boa ideia beber sem comer! Eu, que já estava com sono, fiquei ainda mais sonolenta. Depois de um ou dois touchdowns espertei. Quem cozinhou tudo foi o Scott. Da ementa não fez parte o famoso peru, mas as “mashed potatoes” estiveram presentes e a acompanhá-las tivemos camarões! Foi das piores combinações que já experimentei, mas percebi que as “mashed potatoes” eram um must que não podia ser negligenciado. O colega japonês trouxe uma sopa de peixe e tofu, e um arroz mais ou menos doce que não gostei, pelo que o nosso almoço foi, acima de tudo, um almoço de combinações estranhas. Para sobremesa, como manda a tradição, tivemos caramel apple pie (a minha contribuição para o almoço), acompanhada com gelado. Devo admitir que foi a melhor parte! Depois do almoço assistimos a dois filmes, durante o primeiro estive quase a fazer uma retirada estratégica, porque estava a ser uma seca e o meu sono voltou, durante o segundo, Shrek 2, que já vi várias vezes, deu para rir um bocado, mas o que se seguiu foi torturante, resumos de jogos de futebol americano de há não sei quantos anos atrás. Assistir a um jogo de mais de 3 horas dá para aguentar, mas aquilo foi demasiado! Seguiu-se “Seinfeld”, depois “Curb your excitement”, e depois desisti e fui dormir, não sem antes “publicar” como foi o meu Thanksgiving Day. Thanks God this day is over!

Time for emancipation

Poucas vezes pensei nisto de forma tão serena. Às vezes chateada com esta ou aquela decisão (leia-se “Não, não podes ir!”) pensava em sair de casa (crises próprias da idade!), mas nessa altura não podia, não fazia sentido, mas agora posso, faz “todo” o sentido e… apetece-me. Apetece-me ter a minha casa, com a decoração que sempre imaginei, que está sempre a evoluir, mas que é a minha; convidar os amigos; cozinhar para mim, para eles; ter os meus horários, os meus hábitos, o meu saleiro, o meu galheteiro, o meu sofá, os meus quadros na parede, as minhas conchas algures, que não nas caixas das conchas! Quero abrir a porta de casa, receber os amigos com um sorriso e dizer “Olá, estejam à vontade, enquanto acabo o jantar!”. Antes só gostava de cozinhar doces, mas agora gosto de cozinhar tudo. A minha próxima compra vai ser um livro de receitas italianas. Não escolhi a cozinha italiana só porque é fácil cozinhar pastas, mas porque gosto. Praticamente todas as receitas de pastas envolvem azeite, alho, e ervas aromáticas, existem melhores ingredientes-base? I’m guessing not!
Claro que é mais fácil escrever este post do que o concretizar, mas o primeiro passo está dado, há o desejo de concretizá-lo. Estes 3 meses a viver “sozinha” ajudaram a perceber que está mais do que na altura, não que não goste de viver com os meus pais e avó, não que não seja muito mais “prático” não ter contas por pagar em meu nome, ter o jantar pronto quando chego a casa, e não me preocupar com a roupa, mas nem tudo é perfeito. Viver sozinha pode implicar perder algumas regalias, mas, com toda a certeza, trará coisas que agora não posso usufruir. Estes últimos meses foram como que um preparativo para os pais se acostumarem à ideia de não me terem sempre por perto, e para eu me habituar a não os ter a eles (eu estou preparada, já não posso dizer o mesmo sobre eles!). Acho que seria menos dramático se me mudasse para outro país, porque assim não estaria a sair de casa só para viver sozinha, mas antes por força das circunstâncias. Ontem o Jeff (o PI do meu laboratório aqui em Reno) questionou-me em relação à possibilidade de eu voltar. Talvez volte, embora saiba que há pessoas que vão ler isto e não vão ficar muito contentes, eu própria não fico absolutamente feliz, mas há alturas em que temos de tomar decisões importantes e parece-me que tenho uma para tomar. Vou ponderar os prós e os contras e arbitrar.

quarta-feira, novembro 23, 2005

San Francisco – full report



18 Novembro

Gate 9
O meu voo era às 6:15am, levantei-me às 4:30. Tinha um longo dia pela frente, mas desta vez não seria passado no laboratório. Chegámos ao aeroporto, fizemos o check in, confirmámos a porta de embarque, era a 9, e dirigimo-nos para lá. Quando chegámos não estava ninguém no balcão, nem o nosso voo estava indicado no painel e não havia ninguém à espera. Achámos estranho, voltámos para trás, confirmámos a porta. Era a 9. Numa outra porta vimos o número do nosso voo, a mesma hora, pessoas à espera e pensámos: “O número no painel está errado, é aqui!”. Sentámo-nos à espera do nosso voo. Faltavam 20 minutos quando ouvimos os nossos nomes a serem chamados pelo microfone; pediam-nos que nos dirigíssemos com emergência, à porta 9, a tal, a do painel. A caminho da porta certa, fomos literalmente interceptadas por um homem, sem qualquer farda, apenas com um cartão que o identificava como sendo “alguém” (podia ser o cartão de sócio de um clube qualquer!), que nos perguntou se estávamos a tentar perder o nosso voo e nos disse para lhe darmos os nossos cartões de embarque; que nós demos (!?). Disse-nos que já vinha e dirigiu-se para o lado oposto ao da porta 9. A situação era surreal. Rimo-nos! Tínhamos acabado de dar os nosso cartões de embarque a… alguém. Lá voltou e acompanhou-nos até à porta 9. Entrámos no avião, e uma hora depois estávamos a aterrar em Oakland. Perdemos algumas horas à espera da mãe da Amy, cujo voo foi cancelado (ela vinha de San Diego). Lá chegou e lá fomos, finalmente, rumo a San Francisco.

Cable cars
O nosso hotel, Sir Francis Drake, ficava na baixa de San Francisco, na Powell Street, uma das principais ruas de San Francisco, por onde circulam os famosos cable cars. Um hotel antigo que a mãe da Amy reservou para nós, nunca eu. O nosso quarto, com duas casas de banho completas(!), ficava no quinto andar. Recomendaram-me que ficasse num andar baixo, por causa dos sismos, mas não fiquei. Também não houve sismo nenhum! Estava um tempo fantástico, sol, uma temperatura muito agradável e não havia nevoeiro! A cidade de San Francisco é conhecida por estar constantemente encoberta por nevoeiro, principalmente no Verão(!), estava absolutamente descoberta, luminosa mesmo. Não lamento ter perdido esse ex-libris que é o fog de San Francisco!
Após o check in no hotel, fomos almoçar a um tailandês, pouco passava das 11:00! Comprámos os nossos passes para o cable car e apanhámo-lo até às docas. A viagem teve altos e baixos, literalmente. Para quem não se lembra dos filmes, aqui fica um apontamento “cinematográfico”: aquelas cenas em que se vê um carro a descer uma rua com várias lombas, que em filmes de acção, normalmente, envolve uns quantos saltos, são filmadas aqui. A viagem de aproximadamente 30 minutos até às docas permitiu ver muito da cidade e do que a rodeia. Foi um bom começo. Adorei a arquitectura as casas, que é muito típica daqui. Adorei as pessoas, a forma como se vestem e andam apressadamente nas ruas. Adorei a luz, que me fez lembrar a de Lisboa. Acreditem ou não, dava para perceber que o Oceano estava ali perto, não o Atlântico, o Pacífico, mas o Oceano. Curiosamente, quando sai da estação do comboio, e subi à superfície, se me perguntassem para que lado ficava o Oceano diria que ficava na direcção mais ou menos oposta à real, acho que a minha bússola interna está um pouco descontrolada, ou então era no Atlântico que estava a pensar!

Fisherman’s wharf
Finalmente, o Pacífico. Foi muito bom voltar a ver o mar outra vez. Na zona do Fisherman’s wharf não há praia, apenas docas, e a água é suja, porque é uma baía. A maré sobe e desce, mas a entrada de água vinda do oceano é provavelmente negligenciável e a circulação de barcos é muito elevada, o que resulta numa baía poluída. Anyway, água, muita água! É uma zona absolutamente turística, com muitas lojas, restaurantes e artistas de rua. Tinham-me avisado da existência de uns rapazes que se escondem atrás de uns arbustos falsos e assustam as pessoas. Estava avisada, mas eles são bons e não os vi. Assustei-me! Foi giro, faz parte da tradição! A emoção que se seguiu foi ver, pela primeira vez, confesso, leões-marinhos selvagens. Muitos, deitados ao sol. Da ultima vez que fui ao Jardim Zoológico de Lisboa um deu-me um beijinho (que é como quem diz, molhou-me a cara!), o que foi uma emoção, mas vê-los ali mesmo ao pé, mas no estado selvagem, sem saberem qual o gesto que quer dizer “encosta o teu focinho à cara dessa pessoa!”, foi muito melhor!
Comprámos os bilhetes para Alcatraz e fomos apanhar o ferry para “the rock”, como lhe chamam. Foi nos anos 30 que Alcatraz se tornou numa prisão de alta segurança, que teve a “honra” de acomodar personagens importantes como "Machine Gun" Kelly e Al Capone. Foi fechada em 1963 e é agora parte da Golden Gate National Recreation Area. Embora parte dos edifícios tenham sido destruídos por Índios Americanos que no final da década de 60 a ocuparam, o edifício principal e o farol permanecem mais ou menos intactos. A visita é feita com headphones. À medida que nos contam a história da prisão e nos apresentam os sítios por onde vamos passando, ouvem-se relatos de prisioneiros que estiveram mesmo lá presos, e em alguns locais simulam os sons que se poderiam ouvir na altura em que estava em funcionamento o que torna a visita algo impressionante. Numa tentativa de tomar a prisão, por alguns prisioneiros, ouve tiros e bombas que explodiram; podem-se ver as marcas dos tiros e das bombas no chão e paredes. Por vezes consegui abstrair-me da ideia de que aquilo foi mesmo real, que pessoas morreram ali, mas quando olho para as datas e vejo que tudo aquilo se passou não muitos anos antes de eu nascer, um súbito sentimento de realidade aflora, e Alcatraz, deixa de ser um cenário de um filme, para ser um local de realidades duras, marcadas pelo sofrimento dos que por lá passaram e dos que foram a causa da ida de outros para lá, das vítimas. A visita acaba, entrego os headphones e apanho o ferry de volta para Fisherman’s wharf. Do ferry vê-se a skyline da cidade e… a Golden Gate Bridge. Estivesse o Cristo Rei lá e diria que estava em Lisboa. É maior que a nossa e a área envolvente é mais bonita. A nível técnico teve os seus méritos, mas é só mais uma ponte! O que é que eu estou para aqui a escrever? Eu que tirei não sei quantas fotos, eu e as centenas de pessoas no ferry, quando passámos ao lado Dela. É bonita, tal como a nossa é, e o contraste do vermelho com o céu e mar azuis, e as margens verdes, tornam-na num monumento a ser fotografado, então se lhe juntarmos o pôr-do-sol por detrás, tornam-na irresistível para qualquer um com uma câmara fotográfica na mão.

Pier39
Embora tenha ouvido dizer que é a segunda atracção americana mais visitada na Califórnia, Pier 39 não é mais do que um centro comercial construído numa doca. É lá que fica o Hard Rock Cafe e outras tantas lojas, cafés, restaurantes, que atraem milhares e milhares de pessoas.
Jantei num restaurante no Fisherman’s Wharf, seafood, como convém em San Francisco e apanhámos o cable car de volta ao hotel. Às 8:00pm estava na cama, pouco depois estava a dormir!

19 de Novembro

Muir woods
Acordei às 7:00am, tinha de estar no Fisherman’s wharf às 9:00 para apanhar o autocarro que me ia levar a ver, pela primeira vez, redwoods (Sequoia sempervirens). A viagem envolveu uma paragem na Golden Gate Bridge e atravessá-la. Muir Woods fica do outro lado da baía de San Francisco, na Marin County (uma das mais caras dos USA). Gostei imenso do trail que seguimos pela floresta de redwoods. São árvores verdadeiramente imponentes, não tanto pela altura, que é impressionante, mas pela longevidade, pela resistência. Estavam cá antes de nascermos e estarão cá quando morrermos. Outros nascerão, morrerão e elas vão lá estar, resistindo a intempéries, sismos, fogos, sempre lá, de pé, a crescerem em direcção ao sol.

Sausalito
De Muir Woods fui para Sausalito, uma antiga comunidade de artistas. Agora também os há, mas são poucos. Os que lá estão são os que até podem ter talento, mas têm, acima de tudo, dinheiro para lá viver. Há alguns anos, vários artistas instalaram-se na vila e alguns deles construíram casas na baía (houseboats) com despojos que foram deixados após a segunda guerra mundial (acho que é esta história, espero não estar a inventar!). Até há algum tempo atrás as pessoas que viviam nessas casas, porque viviam em cima de água, não pagavam impostos, agora pagam, e pagam bastante! Há casas lindas nessa zona, casas de sonho, mas quase todas as minhas fotos foram tiradas de costas voltadas para as casas, de objectiva virada para aquilo que mais me apela, os veleiros. Há-os às centenas, na marina de Sausalito. Pena nenhum ter o meu nome no registo!
Almocei num restaurante sobre a água, no “The Spinnaker”, com vista para San Francisco. Altamente recomendado! Em Sausalito faz-se compras e visita-se galerias de arte. Foi isso que fizemos. Fui à galeria Art that makes you laugh do Jeff Leedy, artista que não conhecia e do qual fiquei fã. Comprei um quadro, não fosse eu ter esta coisa com quadros! Comprei o “troubled bridge over water”, porque às vezes me sinto mesmo assim.

Ghirardelli
É um centro comercial, mas, originalmente, uma marca de chocolates. Os chocolates de San Francisco. São bons, mas há melhores. De volta a Fisherman’s wharf, fomos até ao centro comercial e comprámos os chocolates. Faz parte da tradição. “If you’re going to San Francisco… don’t forget to by Ghirardelli’s chocolates”.

Chinatown
Quando se entra em Chinatown pela Grant Avenue and Bush passa-se pelas Pagoda Gates, e não há dúvida que marca a entrada num outro mundo. As cores, os cheiros, os sons, as pessoas, a língua que se ouve nas ruas, são diferentes. Fomos lá para jantar num restaurante que a mãe da Amy conhecia. No “r & g”, que dizem ser um dos melhores restaurantes chineses de San Francisco, do qual o Jackie Chan é cliente! Tivemos de esperar um bocado até termos mesa, mas valeu a pena, é mesmo bom. A frase que saiu no meu bolinho da sorte foi: “you will enjoy good health, you will be surrounded by luxury”. Se o meu luxo for estar rodeada dos que amo, não preciso de mais nada, assim se cumpra o meu destino. Depois de jantar entrámos em tudo o que é loja chinesa. Mesmo sabendo que todas as lojas têm exactamente os mesmos produtos, entrámos em todas, comparámos preços e acabámos a comprar nas mais caras! Voltei ao hotel com uma série de coisas giras, que incluem um chapéu chinês. À custa dele ainda vou acabar por ter uma sala, um escritório, ou mesmo um quarto decorado com motivos orientais! A mãe da Amy queria beber qualquer coisa, queria ir ao “starlight room” que ficava no último andar do nosso hotel (21º). Eu não estava numa de beber nada, mas queria ver as luzes por isso também fui, ou melhor não fui, não fomos. Mesmo às pessoas hospedadas no hotel, estavam a cobrar 15 Dólares à entrada, apercebemo-nos disso e não entrámos. Elas foram até a um bar beber qualquer coisa, eu fui tomar um duche e dormir. No dia seguinte ia, finalmente, passar o dia sozinha!

20 de Novembro

All by my own
A Amy e a mãe saíram para tomar o pequeno-almoço e a seguir saí eu. Elas foram ao Starbucks, eu fui à Borders, mesmo em frente ao nosso hotel. Para quem não sabe, é uma loja do género da FNAC. Tomei um cappuccino e comi um chocolate chip cake (muito saudável!). Apeteceu-me! Circulei por entre os livros, fiz umas compras e sai. Entrei na loja ao lado! A Disney Store! Sou fã, como tal não podia deixar de lá ir. Quando fui a New York, onde existe uma megastore da Disney, quando lá cheguei estavam a fechar a portas, uma decepção! Quase tão grande como a Disney Store de San Francisco, que quase não tinha nada do Mickey, a criação do Walt Disney que o tornou tão famoso! Fiquei chateada, ainda assim comprei duas coisas. Como estava mesmo em frente ao hotel fui lá deixar o que comprei e voltei à Union Square, onde fica a Macy’s! Como também sou fã de decoração, fui à secção de decoração que é absolutamente divinal. Estava a ficar com calor, na minha camisola de Inverno, mas também não estava assim com tanto calor que me apetecesse andar só de T-shirt, pelo que fui à procura de algo de algodão, não muito à Inverno, não muito à Verão. Encontrei um casaco que não é nada o meu estilo, se pensarmos que é preto, mas é o princípio de um novo estilo. Agora visto preto. Não o vesti logo na loja, mas iria vesti-lo dali a uns minutos. Antes disso passei pela secção de malas (já superei a minha fase de devorar malas, mas ainda me custa resistir a pelo menos observá-las). Não havia nada de interessante o que é sempre um descanso para a carteira! Ao lado ficava a secção de joalharia. Como ando há meses à procura de um anel, fui até lá espreitar. Encontrei-o. Não fazia ideia de como era o anel que queria, mas era mesmo aquele. Sai da loja e fui até ao hotel trocar de roupa. O meu plano para a manhã, que já tinha terminado (já passava das 12:00) era ir a Japantown, e foi para lá que me dirigi quando saí do hotel. Ainda no quarto vi no mapa qual a direcção a seguir e guardei-o. O que mais gosto de fazer numa cidade, ou em qualquer lado onde vou, é de me misturar com os residentes, be one of them (acho que consegui, várias pessoas perguntaram-me direcções!), para isso, o mapa não pode sair da mala!

Japantown
Fica a uns quantos blocos de distância do hotel, mas fui a pé, que é a única forma que conheço de se conhecer uma cidade. Ainda na baixa da cidade deu para sentir quão cosmopolita, rica em cultura/culturas, e open-minded a cidade é (San Francisco é conhecida pelo número de homossexuais que aloja e isso vê-se na rua!). Como sempre me acontece, pelo menos uma vez, quando me meto a explorar cidades sozinha, ando por onde não devia. A caminho de Japantown o ambiente começou a ficar cada vez pior e pensei duas vezes se não estava na altura de fazer algumas alterações ao meu percurso. Como sempre, não faço. Acho sempre que se considerei que pode acontecer algo de mau, então, não acontece (até um dia!). Quando estava quase a desistir, quando tirei o mapa(!) para ver quantos blocos ainda me faltavam, comecei a ver os nomes das ruas traduzidos para japonês e alguma coisa me disse que tinha chegado! Não é tão interessante como Chinatown, mas ainda assim interessante. Essencialmente lojas de arte japonesa, que não me agrada tanto como a chinesa, não sei bem porquê, e muitos restaurantes. Estive tentada a comer lá, mas, ainda que o menu fosse atraente (os pratos estão expostos em montras), resolvi não “arriscar”.

Crookdest Street
Sai de Japantown, comi num sítio normalíssimo, e fui até às docas, não sem antes passar num dos sítios mais emblemáticos de San Francisco, a Crookdest Street. É cenário de filmes, e embora não me consiga lembrar de nenhum filme, acho que só pode ser cenário de uma cena romântica ou de uma despedida. É difícil explicar, mas a rua, que não passa de uma rua às curvas, com poucos metros de comprimento, com um declive elevado, com casas de um lado e outro, e muitos canteiros com flores, é um sítio mesmo especial. Ao descê-la (antes disso subi a rua “mais a subir” que alguma vez subi) foi como se a cidade não estivesse mesmo “ali ao lado”, como se não houvesse barulhos. É um sítio especial, mas não sei explicar bem porquê. Vou ser um bocado “romântica-desinteressante-pouco original”, mas aquela é uma rua para se descer, ou subir (demora mais tempo) de mão dada, com paragens pelo caminho!

Lá cheguei às docas. Senti o movimento dos milhares de pessoas, maioritariamente turistas, na zona do Fisherman’s wharf e Pier 39, onde eu própria me passeei outra vez. Jantei. Fui apanhar o cable car para o hotel, e, enquanto esperava por ele, o que deve ter demorado uns 45 minutos (as filas são enormes e temos de esperar que venham vários e levem as pessoas que estão à nossa frente), assisti ao pôr-do-sol por de trás da Golden Gate Bridge. Stunning!
Antes de subir ao meu quarto no quinto andar, fui novamente à Chinatown, antes disso passei por umas quantas lojas que ainda estavam abertas, embora já fosse tarde. Por ainda haver movimento nas ruas, movimento que me pareceu “seguro”, não senti que estivesse a abusar da sorte (após o percurso baixa-Japantown!). Não me livrei, no entanto, de ouvir uns quantos “comentários” (uma rapariga sozinha resulta nisso!), mas nada de deprimente, como normalmente acontece em Portugal. São tão inofensivos que a maior parte das vezes dei por mim a responder aos “Hi”, e a rir-me quando um grupo me disse “Looking good!” (I feel good, I should be looking good!). Embora nos meus planos para este dia estivesse incluída uma ida até à praia, que não se concretizou, nem por isso deixo de ter a-do-ra-do o “meu dia”.

21 de Novembro

Tinha planeado ir ao Exploratorium segunda de manhã. Great choice! Estava fechado! Passeei-me pela zona envolvente do Palace of Fine Arts, onde o Exploratorium está instalado, que nas fotografias parece muito mais interessante do que realmente é. Voltei à baixa de San Fancisco, percorri mais umas ruas, para fazer tempo para o meu voo. Apanhei o comboio para o aeroporto de Oakland e regressei a Reno. Ao laboratório, para onde fui de tarde.

Não sei exactamente quais as razões que me fizeram gostar tanto de San Francisco, mas foram várias. Talvez a principal tenha sido o quão “european-like” a cidade é e estar há uns meses longe de casa, talvez não. Talvez tenha sido por não ver o mar há muito tempo, talvez não. Talvez porque é mesmo uma cidade especial, no matter what.

domingo, novembro 13, 2005

Extremos(*)


Porque “águas passadas não movem moinhos” e porque “depois da tempestade vem a bonança”, hoje estou animada. :) É Domingo, está sol lá fora, estou a poucos quilómetros de San Francisco (**) e de dois ou três parques nacionais fantásticos (pelo que vi em fotos!), e eu estou no laboratório, mas continuo animada. Há dias assim.
De manhã estiveram cá quatro pessoas no laboratório (é por estas e por outras que os USA são a maior potência do mundo!), mas foram-se todos embora. Agora estou sozinha. Enquanto o meu gel corre vim até aqui falar com o meu “amigo imaginário” (esta tem dono!), não que precise dele, mas quando se está a 8824Km de casa, dos amigos, e com 8 horas de diferença horária, quando nos apetece falar com alguém em português, depois das 4:00pm, o melhor mesmo é falarmos com o nosso “amigo imaginário”, que os outros estão a dormir!
Li no Público que há estradas na Serra da Estrela que estão fechadas devido à neve que caiu. Aqui não neva, antes pelo contrário, está sol e as temperaturas subiram (e eu que comprei umas botas para a neve!). Diziam-me noutro dia que as pistas de esqui ainda nem abriram! Querem que eu vá experimentar snowboard assim que abrirem. Estou com espírito para isso, mas o tempo não está para aí virado.

(*) Num dia estamos menos bem, no outro estamos melhor. Num dia o mundo parece-nos uma estrada difícil de atravessar, cheia de pedras, onde se cairmos nos magoamos muito; mas no outro a seguir a relva volta a ser verde e as quedas, a existirem, são suaves.

(**) Hoje estou a quilómetros de San Francisco, para a semana, estarei a quilómetros do laboratório, talvez na prisão!

sexta-feira, novembro 11, 2005

Gone with the wind



Hoje de manhã reparei que a neve no cume dos montes em redor da minha casa (a da Amy), derreteu. Já fazia parte da minha paisagem matinal e foi muitas vezes alvo da objectiva da minha câmara (que cada vez mais anda comigo), mas desapareceu, quase de um dia para o outro. Desapareceu tão repentinamente como a esperança que depositei numa determinada coisa, desapareceu. Perder a esperança é algo que mexe mesmo connosco. Enquanto a temos, por mais que nos pareça impossível de acontecer, há sempre a dúvida: pode ser que… Às vezes a dúvida pode ser algo de muito bom. Pode parecer insensato, mas prefiro uma dúvida a uma certeza indesejada. É a opinião (influenciada) de alguém que perdeu a esperança em conseguir algo que desejava muito e que sente falta dos dias em que podia acordar de manhã, sorrir, e pensar: pode ser que… Mas agora já não posso. Agora sei que a esperança não é a ultima a morrer, embora, inegavelmente, tenha um fim. Às vezes tem um final feliz, às vezes não. O meu não foi, necessariamente, triste, mas não foi, decididamente, Feliz, com “f” maiúsculo.
Diz-se que a realidade, mesmo quando dura, é sempre melhor opção que uma mentira, ainda que deliciosa, mas às vezes a realidade é tão fria, que preferimos o calor com que a nossa esperança, em forma de mentira, de ilusão, nos aquece. Viver na esperança de que… consegue fazer-nos abstrair de tudo o que de mau se passa em nosso redor. Focamos apenas “aquilo”, “aquele”, que nos faz bem, que nos arranca sorrisos, que nos faz sentir tão especiais, tão únicas. Quando a esperança acaba é como… É como nas fotos, na primeira só se vê a planta, delicada, perfeita, na segunda, vê-se as folhas caídas, a relva que já não está verde. Tudo o que de feio nos rodeia passa a ser visível quando os nossos sonhos, as nossas esperanças, deixam de fazer sentido. Quando desaparecem com o vento, como as sementes do dente-de-leão.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Counting down


Falta um mês para voltar. Há algum tempo atrás isso seria motivo de comemoração. Hoje não é. Habituei-me à cidade. Ambientei-me no laboratório. Sei onde as coisas estão; não tenho de passar o tempo a perguntar onde está aquela enzima, ou outra coisa qualquer. Sinto-me em casa. Tenho quinhentas mil coisas para fazer. Talvez não sejam assim tantas, mas parecem.
Esta noite dormi mal. Tive um pesadelo, daqueles de criança, que nos fazem acordar com medo de que seja mesmo real. Voltei a dormir, mas voltei a acordar às 5:30 e não dormi mais. Quando me levantei, olhei pela janela e pareceu-me que o dia ia ser bonito, o céu estava azul e o Sol erguia-se no horizonte. Mas às vezes aquilo que parece nem sempre é e por cima das nuvens brancas, iluminadas pelo Sol matinal, num céu azul, havia nuvens escuras a espreitar. Não as vi antes de tirar a fotografia; só as vi quando a abri no computador. Espero que o dia não me corra muito mal; não tenho tempo para dias “negros”. Vou tentar ser prática e seguir a rota traçada para mais um dia longo e não olhar muito para a janela e ver as nuvens negras que fazem o Sol brilhar menos. Confuso? É possível. Não dormi bem.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Brrr, It’s cold!


Finalmente o frio chegou. Os tão falados windy days começaram e as temperaturas caíram “desamparadas” para máximas de 13 e mínimas de 3. Com temperaturas elevadas em tudo o que é casa, carro, autocarro, e 10ºC na rua, acho que me vou constipar.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Ha(rper)ll(ab)oween


E perguntam vocês? Então, então, como é que é passar o Halloween nos USA? E eu respondo: Não faço a mínima ideia! São 9:00pm e estou no laboratório, à espera do Scott e da Amy para ir para casa (o Scott só acaba as aulas às 10:00, por isso ainda vou ficar por aqui mais uma hora). Até tínhamos “treats” para dar a quem nos batesse à porta, mas a nós só nos saiu “tricks”.

domingo, outubro 30, 2005

Playoffs


Perdi o jogo, mas joguei bem e fui apurada para os playoffs. Que é como quem diz, não tive os resultados que queria, mas tive resultados, que permitem continuar a aspirar vencer o campeonato.

sábado, outubro 29, 2005

Resumo da semana(*)


Depois do halftime vem a segunda parte. A segunda parte foi intensa, uma vezes era a minha equipa que estava a ganhar, outras, a equipa adversária. Isto traduz-se em bons resultados num dia, maus no outro, o que resultou num empate. O desempate joga-se no Domingo. No número 319 do Fleischmann Agriculture Bldg, na Universidade do Nevada. Wish me luck.

O resumo:

Would you like more coffee?

No dia em que previ “no halftime” houve, afinal, halftime e fui, a meio da tarde, a uma livraria, com um colega do laboratório, e a seguir fomos a um café, apenas por alguns minutos, porque o dia ainda nos ia cobrar várias horas de trabalho. Fomos ao Franz’s. Um café muito simpático de um australiano, ainda mais simpático (como era a primeira vez que lá ia, ofereceu-me um bolo!). Foi uma verdadeira “experiência americana” porque é daqueles cafés onde nos servem o café e depois nos perguntam se queremos mais. Para a maioria, um pormenor sem qualquer importância, para mim, uma situação engraçada. Por “ser à filme”. Sempre achei piada àqueles cafés que se vê nos filmes onde há sempre uma empregada com uma cafeteira na mão a perguntar "Coffee?"; onde o polícia se encontra com o informador, ou o casal romântico se encontra subrepticiamente, onde acabam, onde começam, onde se conhecem, mas sempre de chávena na mão. Quando iamos a sair o Franz voltou a oferecer-nos mais café. No, thanks! Eu não costumo beber café, aquele não era bom e estava tão quente que eu acabei por queimar a língua (não que no copo não me avisassem: “Contents may be hot”), mas quero lá voltar e… voltar a beber café. Dessa vez pago eu o bolo!

Nevada Day

Na sexta foi feriado no estado do Nevada. Como o PI do meu laboratório não é daqui, não “feriadou”. Eu? Eu também não sou daqui! Foi o meu melhor dia no laboratório, só algumas pessoas foram, pelo que, na maior parte do tempo, só lá estive eu, o PI, e mais uma pessoa. Como estava tudo fechado e eu, extraordinariamente, não levei almoço (sim, que aqui toda a gente traz almoço para o laboratório, e “em Roma, sê romano”), fui “almoçar fora”. Fomos a um restaurante tailandês. Eu não gostava, mas fiquei fã. Escolhi de entre as quatro sugestões que tinham para “lunch special” (o nosso “prato do dia”) e adorei. Como em todas as cozinhas do mundo, não chega a receita, há que haver mestria, naquele restaurante existem dois chefes e um é melhor que o outro, quem conhece nota a diferença. Eu fui num dia “bom”. A comida estava divinal, a conversa interessante. Foi um excelente halftime num dia passado entre géis e enzimas de restrição.

(*) Como estou numa de termos desportivos, “halftime”, “resumo da semana” (não é bem um termo desportivo, mas…) e a tentar arranjar uma “estratégia” para conseguir fazer em pouco mais de um mês aquilo que demoraria no mínimo três, optei por colocar a foto do esquema que me fizeram para me explicarem as regras do futebol americano. Não percebi muito bem até hoje, mas também não sei como vou conseguir fazer tanta coisa em tão pouco tempo, portanto, a foto justifica-se.

terça-feira, outubro 25, 2005

Halftime(*)

Cheguei há 44 dias, volto daqui a 44. Dias esses que se prevêem muito preenchidos, à semelhança do dia de ontem, que foi absolutamente intenso. Os números: 184 reacções de PCR, 81 extracções de DNAgenómico, 11 digestões, 8 transformações e apenas uma 1 cultura ON, que se traduz em 12 minipreps para hoje de manhã.

(*) De halftime este dia só vai ter o título do post, porque prevejo que não vá ter qualquer intervalo.

sábado, outubro 22, 2005

“Lápis preto”

Hoje esteve um dia fantástico, mais de 70ºF (peço desculpa, mas são estas as unidades que vejo quando olho para o meu relógio de cabeceira, que também é termómetro) e eu passei-o em casa! De manhã cedo estava frio; depois eu e a Amy estivemos a fazer as coisas que se fazem nos sábados de manhã [ela hoje até tinha uma lista: vacuum, laundry, wash lettuce, bath Sabel (a cadela), write thanksgivings(!)]; depois era hora de almoço; depois… depois não me apeteceu. Fiquei a ler, A walk to remember, de Nicholas Sparks; The voyage of the “Dawn Treader”, de C. S. Lewis; e ainda, California’s Eastern Sierra – A visitor’s guide. Sempre tive este hábito insensato de ler várias coisas ao mesmo tempo, que faz com que tenha de voltar a ler a última página que li por já não me lembrar. Não acabei nenhum dos livros. Liguei o computador. Embora tenha de procurar um “sítio” para mutagenizar numa proteína, não foi isso que fui fazer. Fui espreitar o passado, o outro lado do oceano, aqueles que não vejo há tempo demais. Senti alguma nostalgia ao rever fotos das férias, de amigos, de Paris, de outros tempos, de outros sítios. Depois disto não foi o MegAlign que abri, foi o Paint Shop Pro. O resultado foi uma tarde em que não fiz o que devia ter feito e em que acabei a fazer um “black pencil portrait of myself” (dá para acreditar!?). Também experimentei a cores, mas o meu dia de colorido só teve os raios de sol a entrarem pela janela e as minhas meias, às riscas cor-de-rosa e verde.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Yes, I do

Jeff: This project is yours, if you want it!

Eu: I do, I really do! :)

É oficial, o projecto dos CNGCs no H. lab é meu!

3

Tenho 3 convites para ir a São Francisco:
1. o do Shawn. Vai lá passar o Halloween com uns amigos, como costuma fazer todos os anos (foi sincero, disse que ia lá para beber!).
2. o de um rapaz amigo de uma rapariga que trabalhava no laboratório ao lado do meu em Lisboa. Tem lá família e amigos e quer conhecer a cidade.
3. o da Amy, que se vai encontrar com a mãe, que faz anos.

- os prós:
1. conhecer um monte de gente nova, eventualmente divertida,…
2. a viagem seria de carro, e eu quero mesmo fazer uma road trip aqui e não quero fazê-la sozinha. Nunca foi a São Francisco. Não ter de pagar hotel, porque insistiu para eu ficar com alguém da família dele.
3. vou e venho com a Amy, que também nunca foi a São Francisco.

- os contras:
1. potencialmente problemático, porque não conheço os amigos do Shawn, embora dê para imaginar, e depois… eu não bebo, how boring is that? Claro que não tenho de andar com eles o fim-de-semana todo, mas…
2. não conheço o rapaz, embora tenha “referências” de que é boa pessoa! Ia ficar em casa de estranhos (prefiro de longe pagar o hotel!). Ele é Israelita…
3. Might be boring. Os planos delas são passear pela cidade e fazer compras; eu tenho passe-livre.

And the winner is… opção número 3! Less exciting, but definitely safer. That’s more my style. Já tenho os bilhetes, 18 a 21 de Novembro! Prometo fotos da Golden Gate Bridge! E enviar um postal à Eva! ;)

domingo, outubro 16, 2005

Evasivas

É curioso até onde os pensamentos nos levam, a forma como se atropelam uns aos outros, como passamos de um assunto para outro distinto. Esta semana fiz sopa de alho francês. Não gostei. Não que não esteja bem feita, mas não me lembrava que não gosto de sopa de alho francês. Mas fi-la, por isso vou esforçar-me por comê-la (prometi à minha avó). Estava a comer a sopa e a pensar no tupperware cheio dela quando o Scott entra na cozinha e começa a falar do seu “homework” da cadeira de marketing. Tive de fingir que estava a gostar daquela coisa verde e laranja que ele me viu preparar durante a tarde com tanto empenho. No segundo seguinte já não era a sopa que me ocupava o pensamento, era a palavra “homework”, em português, TPC, que não há ninguém que diga “trabalhos para casa”! Nunca percebi porque é que a sigla não é TDC, todos (acho) dizem “trabalhos de casa”! Deve ter sido criada por um professor, que é quem manda os “trabalhos para casa”! O Scott saiu da cozinha e eu voltei à sopa, o prato ainda estava meio cheio, que não há visão optimista capaz de ver o prato meio vazio. Acho que numa manobra de defesa o meu cérebro decidiu que era melhor mudar de assunto. Voltei ao TPC. Lembrei-me dos meus cadernos aos quadrados ou de linhas (sim, que quadrículas ou pautados eram expressões dos pais) onde escrevia a lápis ou a caneta azul (que nunca escrevi a preto) a sigla TPC e a página do livro. Volto ao assunto sopa, mas desta vez até me “soube” bem. Acabou. Uff! Já com a sobremesa à minha frente (morangos, banana e iogurte) dou por mim a pensar em como os nossos pensamentos são ágeis e velozes, como nos fazem saltar “daqui para ali”, de uma sopa de alho francês para o caderno de linhas com o TPC para amanhã. Francês. Caderno. Podia agora contar várias histórias que se passaram nas aulas de Francês, mas fica para a próxima, para quando voltar a ter o prato meio cheio.

sábado, outubro 15, 2005

Changing colors


Hoje choveu cá em baixo e nevou lá em cima, as árvores mudam de cor e as suas folhas enfeitam o chão com cores fortes e quentes, que contrastam com o frio que se sente chegar – o Outono faz-se sentir.

Lake Fallen Leaf



Há coisas que são extremamente difíceis de descrever, como por exemplo, aquela sensação que sentimos na barriga quando algo “mexe” connosco, ou o que sentimos quando vimos algo de absolutamente extraordinário, que nos deixa sem palavras, quando o silêncio diz mais do que todas as palavras que aparecem no mais completo dicionário. Foi assim que nos sentimos ao chegar ao lago. Depois de uma caminhada por entre pinheiros enormes, em que o ar fresco e o cheiro a pinho compensava o facto de estarmos a uma altitude relativamente elevada, encontrar aquele pedaço de paraíso no meio da floresta foi algo de indescritível. Nenhum de nós disse nada a não ser um “Uau” ou algo do género. “Gorgeous” e “beautiful” foram as palavras que se ouviram, mas nenhuma conseguiu transmitir o que cada um de nós sentiu. O Lake Tahoe pode ser maior, mais famoso, mas foi este, o Fallen Leaf, que me deixou “speechless”.

Hiking

Depois da “salmon run” resolvemos embrenhar-nos na floresta e seguir um trilho, mais ou menos inexistente! O objectivo era irmos ao Lake Fallen Leaf. Começámos por caminhar sempre junto ao rio, assim não nos podíamos perder, no final, aliás, no início do rio encontraríamos o lago, é aí que ele nasce. O “trilho” junto à margem desapareceu e tivemos que entrar na floresta, passámos por um parque de campismo, avisos de que ali há ursos, e, por fim, conseguimos avistar uma zona onde as árvores deixavam de existir, o lago, só podia ser o lago. Uns metros mais à frente, encontrámo-l(ag)o. A descrição segue no post seguinte, é digna de um post só para si.
No regresso “perdemo-nos”, mas foi fácil voltarmos a encontrarmo-nos, apenas tivemos de criar um novo trilho por entre os ramos das muitas árvores que um dia já estiveram na vertical e hoje estão na horizontal.

Salmon run



Hoje foi o meu melhor dia em Reno! Fui ver aquilo a que eles chamam “salmon run” em Taylor Creek, no Estado da Califórnia. Já tinha visto imensas vezes na televisão, mas ao vivo, como tudo na vida, tem outro impacto. É impressionante ver milhares de salmões a subirem o rio, contra a corrente, para completarem o seu ciclo de vida. Mas é exactamente isso, um ciclo, enquanto uns terminam ali o seu, ali mesmo, outros iniciam um novo. Os ovos são ali depositados e mais tarde os Kokanee Salmon jovens descem o rio até ao Lake Tahoe, para mais tarde voltarem a subi-lo e reiniciarem um novo ciclo.
As cores fantásticas dos salmões e as águas absolutamente cristalinas proporcionam um espectáculo magnífico. Imperdível. Saber que existem ursos no local onde fui observar a “salmon run” torna tudo ainda mais emocionante. Só faltou mesmo ver um para o espectáculo ser completo!

It’s snowing

Não em Reno, mas na Sierra Nevada.
Hoje de manhã acordei com o barulho da chuva. Estava previsto chuva e choveu. Nunca uma previsão de chuva me alegrou tanto(*), uma humidade de 60%, como a de hoje, permite que a frequência com que apanhe choques diminua bastante! Mas olhar pela janela, para as montanhas que rodeiam a cidade, e ver neve foi a melhor forma de começar um dia que acordou sem sol, até me fez começar a gostar um bocadinho mais de Reno.

(*) Também fico contente que já tenha começado a chover em Portugal. Depois de dois Verões seguidos em que o fogo não deu tréguas, com um Inverno seco pelo meio, só a chuva pode fazer o milagre de voltar a dar vida a algumas centenas de hectares ardidos, que, sem ela, correm o risco de se virem a parecer com a paisagem aqui de Reno.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Um dia para esquecer

Há dias em que não devíamos mesmo sair da cama. Ontem havia reunião, era a minha vez de apresentar o meu trabalho aqui no laboratório. Como tinha minipreps para fazer queria chegar cedo para as acabar e digerir os plasmídeos antes da reunião. A Amy ia para San Diego, o Scott ia levá-la ao aeroporto e por isso ofereceu-se para me levar à Universidade. Óptimo, ia chegar mais cedo ao laboratório. A Amy tinha de estar no aeroporto às 8:10; saímos de casa às 8:15. A caminho do aeroporto apanhámos um trânsito monumental, a Amy procura no mapa um caminho alternativo para o aeroporto. Passamos pela Greg St., “No, its not than one!”, continuamos em frente, em fila, até que o Scott vê que a rua onde quer virar é mesmo ali à frente. O trânsito está quase parado, resolve, então, ultrapassar todos os carros pela direita, pela berma! Ao virar para a estrada que nos ia levar mais depressa ao aeroporto é mandado parar por um polícia. Para além da infracção cometida, o seguro estava fora de prazo. O polícia mandou o Scott procurar o actualizado, enquanto isso mandou parar outros carros e passou outras multas. Voltou 10 minutos depois! A Amy não conseguiu encontrar a carta com o novo seguro. Foram multados pela transgressão e obrigados a comparecer em tribunal para apresentar o seguro. Entretanto eram quase 9:00. O Scott perguntou ao polícia o caminho mais rápido para o aeroporto, “Turn left on Terminal St.” (a rua que começa onde a Greg St. acaba!). A Amy conseguiu apanhar o seu avião e eu, finalmente, cheguei ao laboratório. Boa notícia: afinal não tive de fazer minipreps. Má notícia: não tive porque as minhas células, tal como as do Jeff, da Amy e da Yoshimi, não estão a crescer em meio líquido, só crescem em placa!? Para além disto tive mais um mau resultado; a reunião não correu como eu queria; preciso mesmo de contactar uma pessoa e o telefone que me deram está errado; e já apanhei dezenas de choques. Enfim, um dia para esquecer. Este texto é só para me lembrar, em dias menos bons, que o dia pode sempre correr pior.

quarta-feira, outubro 12, 2005

My place


Para minha imensa felicidade a casa da Amy, a minha casa, fica a umas quantas milhas dos neons, das limousines, dos gambling-turistas. Moro no Park Valley Ct, numa casa muito, muito gira (uma das casas que não se vê, propositadamente, por detrás do condomínio de apartamentos).

30 dias


Há um mês que estou aqui, na “maior cidade pequena do mundo" (a tradução consegue superar o original!). Foram 30 dias de descobertas; de trabalho; de choques, culturais e eléctricos; e de muitas saudades.

Nota: Peço desculpa pela qualidade da foto, mas não fui capaz de me colocar em melhor posição, leia-se “mais exposta”, para tirar uma fotografia ao “monumento” mais fotografado de Reno.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Laranja


Assim vai o nosso país.

domingo, outubro 09, 2005

O lago


Por detrás dos montes quase áridos que rodeiam Reno existe um misto de verdes, que nesta época são cortados por amarelos fortes e vermelhos incandescentes. É assim todo o caminho até ao Lake Tahoe, o mais profundo do mundo a uma altitude tão elevada. O lago é grande, é bonito, é límpido, é… azul.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Signo vs. Sinal

As horas de espera que a Biologia Molecular providência dão para isto e muitas outras coisas. [São 8:45pm, queria estar em casa, mas não, estou aqui à espera que o meu PCR termine. É como que um castigo por me ter enganado 3 vezes (!) no tempo de extensão. Podia fazê-lo amanhã, mas não, optei por fazê-lo hoje.] Decidi ler o meu signo (só porque está na minha página pessoal do meu e-mail Yahoo!). Não ligo nada a essas coisas, mas hoje fiquei impressionada:

A little foreign culture may be the thing you need right now to spice things up a bit, dear Aquarius. It could be that you aren't feeling a very strong connection with the environment around you and that you are anxious to spread your wings and explore your freedom. Start small but think big. Get out of your rut and do more exploration on your own. There is a sobering, disciplined feeling to the day today that may help you think realistically about your situation and where you want to go with it.

(não sei como referenciar isto, mas não quero ser acusada de nada, por isso aqui fica a página de onde copiei:
http://uk.horoscopes.yahoo.net/yahoouk/Aquarius/)

Fiquei impressionada pelo óbvio (foreign culture, aren't feeling a very strong connection with the environment around you) e porque ontem comecei a planear a minha ida a San Francisco, ainda que hesitante, porque vou sozinha, mas hoje decidi (mais ou menos!) que vou mesmo. A previsão do meu signo para hoje deu-me um sinal para “amanhã”.

"Miss BB"

Tenho saudades de uma série de coisas, de pessoas, de comidas, de cores e… do BodyBalance. Faz-me falta aquela hora de manhã cedo plena de harmonia e equilíbrio. Hoje fui espreitar o site da Les Mills: já perdi um lançamento e quando voltar não sei se terei vaga :( Fiquei ainda com mais saudades; valeu pela frase inspiradora:

So: BODYBALANCE regularly, smile soulfully and love interestingly; make our world a better place.

Jackie Mills
(BodyBalance Program Director)

terça-feira, outubro 04, 2005

Inconfidência

Tomei a liberdade de tornar público algo que me disseram em privado para tornar público o meu agradecimento.

A tua escrita faz-me sentir um bocadinho mais perto de ti. Consigo imaginar a tua expressão a cada palavra que leio, como se estivesse a ouvir-te e não a "ler-te".

Obrigada, gostei muito, muito.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Quando os telhados das casas se confundem com o castanho das montanhas


Paisagem de uma manhã fria, em cores e temperatura.

Quando...

Sei que estou nos Estados Unidos quando…
- 7 em cada 10 carros são jipes ou pickups;
- os condutores respeitam o sinal que diz 15mph, junto a uma escola, mesmo quando não há tráfego nenhum e as únicas pessoas na rua sou eu e uma senhora a passear o seu cão;
- todos os carros param no sinal STOP mesmo quando não há carros até onde o nosso olhar alcança;
- reparo que a maioria dos sinais de trânsito são “textos” e não sinais (“right lane MUST turn right”; “right lane bicycles only”; “STOP ahead”; “wrong way”; “one way”; “speed limit 35”; “keep right”; “not a through street”; “end school zone”)
- vejo todos os carros encostarem à berma da estrada ao som de uma ambulância, que não vinha sequer no sentido em que eles circulavam (circulava perpendicularmente);
- reparo que os carros dos bombeiros e camiões são iguaizinhos aos de brincar e os autocarros das escolas são mesmo amarelos, como nos filmes;
- vejo uma drive thru pharmacy ou um drive-up ATM;
- me pedem desculpa porque não pararam na passadeira, quando eu ainda vinha a 4 passos da mesma;
- todos os autocarros (os que reparei) têm uma plataforma elevatória para permitir o transporte de cadeiras de rodas e um suporte externo para transportar bicicletas;
- o motorista do autocarro (que é sempre pontual) me cumprimenta com um sorriso (“Good Morning!” :);
- o empregado da caixa do supermercado me pergunta como estou, se tive uma boa semana, me deseja uma boa noite e o empregado que acaba de arrumar as minhas compras me pergunta se quero que ele as leve até ao carro;
- nos copos e embalagens com comida, eventualmente quente, avisam “Contents may be hot”, e no chocolate com avelãs que comprei, avisavam “May contain nuts” (hope so!);
- vejo matrículas do género [MY3LOVE], [NANDY], [877MAD];
- os filmes começam sempre à hora prevista;
- entro numa casa de banho e reparo no nível da água da sanita;
- leio o aviso afixado junto ao “bebedouro” na universidade que diz “Please do not spit chewing tobacco on the water fountain”;
- vejo grande parte dos alunos com T-shirts ou sweatshirts da universidade (UNR – WOLF PACK);
- me dizem que não me podem dar uma cópia das chaves dos laboratórios porque não tenho “Social Security Number”;
- tudo, na generalidade, é maior (as embalagens de bebidas, chocolates, mostarda; o papel de cozinha, o higiénico; as frutas; os carros;…)
- reparo nos jardins das casas, que não têm vedações;
- o rapaz com que me cruzo todos os dias no autocarro (ele sai, eu entro), ou o senhor com que me cruzo no supermercado, me diz “Hi” com um sorriso e eu respondo igual [Afinal dizer olá a alguém não “tira bocado” nenhum. Às vezes faz-me confusão cumprimentar essas pessoas que não conheço, sempre me disseram para “não falar com estranhos”, mas sou bem capaz de me habituar a este costume e até gostar.]
- vejo bandeiras dos USA em todos os lados (carros, casas,…).

Sei que estou em Reno quando…
- passeio pela baixa e só encontro casinos, motéis, lojas de souvenirs, restaurantes, wedding chapels e joalharias;
- as duas senhoras que estão ao meu lado, na paragem de autocarro, estão, simultaneamente, a colocar creme hidratante nas mãos (a consequência de uma humidade relativa de 30%, que só os meus olhos de vez em quando tendem a contrariar);
- o trajecto do meu autocarro é mais uma vez alterado em virtude da Virginia Street estar mais uma vez fechada ao trânsito, por ocasião de mais um evento (outra vez motas! desta vez motocross, sim motocross, que embora as ruas da baixa de Reno sejam de asfalto, trouxeram toneladas de terra e espalharam-na pelas ruas para criarem um terreno irregular onde os meninos das motas podem fazer as suas acrobacias);
- pela décima vez, num só dia, apanho mais um choque.

Não sei onde estou quando… reparo no desenho de uma criança, afixado no autocarro, em que se vê um menino a pedir aos pais que não lhe batam porque isso lhe dói (“Mom, dad, can you please stop hiting me because it hurts you even leave me purple marks.“). “Preventing child abuse” é o nome da campanha e está traduzido para espanhol.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Tecla embargada

Hoje estou, definitivamente, com a “tecla embargada”. Em todas os sentidos possíveis da expressão. Por isso mesmo tive de escrever alguma coisa para ver se isto me passa. Mau dia para estar assim. Estou a fazer uma série de coisas ao mesmo tempo, felizmente nada que requeira grandes recursos intelectuais, apenas um timer com várias memórias ou uma pessoa atenta (o que não é o caso). Se chegar ao fim do dia com alguma coisa feita, leia-se “se não “overdigest” os plasmídeos que estou a digerir, se não deixar as minhas amostras saírem do gel, se não estragar os meios de crescimento que estou a fazer (pelo menos já os autoclavei e nada explodiu por aqui)”, até não seria mau. Mas a vida não é só ciência e hoje queria muitas outras coisas. Queira estar noutro sítio. Sentir o oceano a Oeste e não a Este. Hoje não há muito de crystal clear neste post, mas é, absolutamente, pure. Hoje só alguns vão conseguir ver para além das nuvens que ocultam o meu sol.

Os meninos que não são de ciências (biológicas) que me desculpem os termos mais técnicos que possam ter sido utilizados.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Monday night football

Aqui, os melhores jogos de futebol são à segunda. Nas últimas duas assisti aos jogos, aprendi algumas regras, embora tivesse chumbado no exame que o Jeff me fez: O que é um touchdown? Errei, confundi com um first down (como fui capaz?!); E quantos pontos se ganha quando se faz um touchdown? Seis (acertei!); E quantos pontos se ganha quando se marca um field goal? Arrisco, oito. Não, apenas 3. Depois deste chumbo, ainda tive de tentar defender o futebol “clássico”. O Jeff diz-me que o futebol americano é intelectualmente muito mais desenvolvido que o europeu. Tentei arranjar argumentos contra, mas não consegui. Concordo com ele, devo admitir. Dizer que o futebol europeu tem rapazes mais giros não me pareceu que abonasse muito a favor do "intelectualidade" do futebol… nem a meu favor!

It’s a small world

Primeiro dia no laboratório, em Reno, uma das raparigas que trabalha aqui vem ter comigo e pergunta-me de onde é que venho, eu digo que de Portugal, e ela diz que teve um colega, na Universidade de Cornell, que era português. O ex-colega dela é agora meu colega em Lisboa! Estava a almoçar na sala comum do departamento e aparece uma rapariga e um rapaz que metem conversa. Eu digo que sou portuguesa, o rapaz, que é israelita, diz que tem uma amiga portuguesa; diz-me o nome dela e não é que essa rapariga trabalhava no laboratório ao lado do meu, em Lisboa. It’s a small world or what?

terça-feira, setembro 27, 2005

Um dia agridoce

Hoje não houve sol (só de manhã, bem cedo). Tive um mau resultado. Esta noite é noite de futebol (americano) lá em casa. Um sublime conjunto de coisas para tornarem este dia num mau dia. Mas… a minha colega, ao casamento da qual não fui e que pensei estar furiosa comigo, afinal não está zangada e saber que continuamos amigas fez com que o meu dia afinal até tivesse algo de muito positivo. As maiores felicidades L.

sábado, setembro 24, 2005

A minha primeira viagem de autocarro

Falando em primeiras vezes lembrei-me da minha primeira viagem de autocarro aqui deste lado do “pond”(*). Nesse dia decidi que não iria de boleia com ninguém para casa e fui apanhar o autocarro das 7:45pm. Sabia que a paragem ficava entre a 2nd e a 3rd e lá fui direita a downtown Reno. Para minha infelicidade, para além da baixa de Reno já ser mal frequentada, estava a haver um qualquer evento com motards (conseguem imaginar o tipo de pessoas com que me cruzei? tentem e depois, no mínimo, dupliquem o mau aspecto). Estava escuro e não sabia onde era a paragem, desisti de me armar em valente e dirigi-me a um polícia para lhe perguntar. Não sabia bem como abordar um policia americano, arrisquei um “Excuse me, Sir”. Notei que colocou as mãos no coldre, suponho que na arma – senti-me tão mal. Mas depois lá me respondeu de forma agradável, ainda assim não gostei muito da experiência. No autocarro o motorista tratou-me por sweety!? – “Yes, swetty, I’ll take you home in a couple of minutes, sweety!".

(*) O motorista do autocarro perguntou-me: “Are you from the other side of the pond?” Ao que eu respondi: “Sorry!?”; e ele esclareceu-me: “I mean, the ocean.”. Portanto, eu estou do outro lado do “pond”, no outro, o dele.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Sopinha

Ontem fiz sopa pela primeira vez! Talvez não seja “prudente” admitir isto em público, mas nunca tive de fazer comida para mim durante tanto tempo (2 semanas!), pelo que nunca foi necessário. Demorei mais de duas horas, não sabia se tinha a quantidade de água certa, usei um "blender" para liquefazer todos os legumes, e, no fim, ficou com muito bom aspecto e textura. :) Se está boa ou não, não sei. Ainda não provei.

.blogspot.com

Reparei agora que com as letras de spot se pode escrever post… que, por sua vez, se escreve no blog. Eu sei, eu sei, “no comments”!

Former posts – parte 3 (e última)

20 de Setembro
A inadaptação inicial e algumas saudades fazem-me baixar as “defesas”. Pediram-me pragmatismo, para colocar os blues de lado. Blues... hoje, sem sol, foi um dia um bocado blue, ainda que clarinho.

Former posts – parte 2

16 de Setembro
A Amy… é simpática, mas o Scott (o marido dela, um surfista de San Diego que está a desesperar aqui em Reno) é bem mais simpático. Têm à volta de 30 anos, ou talvez um pouco mais. A Amy, que usa brincos iguais aos meus (pérolas – desde há algum tempo que uso outros, mas as pérolas hão-de sempre ser os meus brincos), gostava de ser escritora (romancista), o Scott está a tirar um novo curso na área da gestão, embora trabalhe em ciência. A casa deles é muito gira e fica num bairro igualmente giro. Absolutamente americano: casas em madeira, jardins sem vedações, ruas largas, muito limpas – adoro! A casa fica afastada da cidade, o que é mau porque demoro algum tempo a chegar à universidade, mas acaba por ser bom porque a cidade é HORRIVEL, mas já falo sobre Reno.

O meu quarto.
Tenho uma queen size bed, para onde tenho de pular para subir (e eu não sou propriamente baixa!). A janela dá para o jardim. A porta para o corredor. Isto seria irrelevante se ao fundo do corredor não houvesse uma janela enorme que me deixa ver o nascer do sol, todas as manhas, quando me levanto. Há melhor forma de começar o dia? Guess not. Ao fim do dia, no mesmo local, tenho a lua. Hoje estava quase cheia. Ainda me faltam muitas luas novas até regressar. Homesick? Sim, um bocadinho.

Na terça de manha só fui para a Universidade ao meio-dia, porque a Amy e o Scott entram e saem tarde. De manha vão sempre dar uma volta com o cão deles e eu fui com eles. Fiquei cansada! Reno fica uns bons metros acima do nível do mar, pelo que custa a respirar e o ar é extremamente seco. Mas o difícil mesmo de suportar é a paisagem… é tudo castanho, quase não há verde aqui. Quanto mais castanho vejo em redor da cidade mais sinto falta do azul. Não seria capaz de viver aqui. São Francisco fica a 4 horas de carro, mas, ainda assim, estou muito longe do mar.

A Universidade.
Fica no centro da cidade, ou melhor, no gambling center (há dezenas de casinos e motéis aqui mesmo ao virar da esquina!). Acho que é como todas as outras nos Estados Unidos. Um campus grande, com todas as facilities, sem esquecer as famosas fraternities (as dos rapazes, as das raparigas não me lembro) com direito a letras grandes na parede exterior das casas e tudo – estou a referir-me às “alfa, beta, gama” ou “delta, delta, delta” – aquilo tipo de coisas que via nos filmes e achava que não podiam ser reais, mas são! Até já vi grupos de meninas que se vestem, penteiam, andam e falam igual!
Os edifícios são castanhos (cor de tijolo), para não destoar com a paisagem, o que torna o sítio um bocadinho triste. Existem vários jardins. E muitos alunos sentados na relva. É algo que invejo.

A cidade.
Casinos e mais casinos. Centenas de motéis. Lojas de souvenirs. E…wedding chapels! Lovely! Hoje passei por uma (alias várias) e havia pessoas à espera! Que razões, realmente válidas, levarão um casal a vir casar-se a uma wedding chapel em Reno?
Uma cidade deste género só podia ter um ambiente “esquisito” e tem-no. Há pessoas com um aspecto “esquisito” nas ruas (não sei bem definir, mas sei que passei para o passeio oposto quando vi um homem com um aspecto “esquisito” a vir na minha direcção e me dei conta que já devia estar no sitio da cidade que me disseram para não frequentar!). Embora haja imensos motéis não me parecia que fossem utilizados por casais ilícitos, mas antes por pessoas que vinham realmente jogar, a não ser que houvesse “meninas” nos casinos que acompanhassem os senhores até ao quarto, porque nas ruas não via nada! Estava redondamente enganada. Há prostituição aqui. Aliás o estado do Nevada é conhecido como o “sin state” dos USA. Jogo e prostituição. Nice!
Existe um rio que atravessa parte da cidade, onde se pode nadar ou descer rápidos. Há uma zona, muito restrita, junto ao rio que até consegue ser um pouco agradável, mas se me virar para trás vejo os casinos e as pessoas que os frequentam e está tudo estragado.
Quando procurei informação sobre Reno na Internet, para ver para onde vinha, vi uma fotografia de uma rua com uns neons de várias cores que dizia “The biggest little city in the world” – deprimente. Mantive a esperança de que isso já não existisse. Já lá passei 3 vezes hoje! Também os casinos têm luzes de todas as cores, como em Las Vegas, o que dá um ar “pretty cheap” à cidade.

As pessoas.
Bom, são americanos.
Por ordem absolutamente aleatória. Falam alto e como se fossem nossos amigos desde a infância (folks para aqui, guys para ali – o que não é, necessariamente, algo negativo); na sua maioria não fazem a menor ideia do que é vestir bem, não sabem combinar cores; têm SUVs, jipes, ou carros grandes; orgulho no seu pais; qualidade de vida bastante razoável; estão sempre bem dispostos. É impressionante como estão sempre com um sorriso (há aqueles menos simpáticos, mas estou a falar na generalidade). Já me tinha dito que eles eram assim, mas só estando com eles é que se consegue perceber a verdadeira dimensão da coisa. Será que é algo que lhes é “ensinado” para que ninguém se atreva a perguntar se algo de errado se passa com eles, com o seu país? A maior potência do mundo. Aquele mesmo país que deixa passar 5/6 dias até dar real assistência aos seus cidadãos que foram vítimas de uma tempestade prevista pela meteorologia! Aqui há quem defenda o seu país no que diz respeito à atitude do seu governo e culpe as pessoas que lá ficaram de não terem tomado medidas preventivas (!?).

Comida.
Fui ao Raley’s às compras. Foi uma verdadeira aventura. É tudo fat free e tudo tem aditivos, até a água (can you believe it? diz “enhanced with minerals for a pure, fresh taste”??!!). Comprei leite (1 gallon, enriquecido com vitamina D) e mais uma série de coisas. Também fui ao Trader Joe’s, que é o supermercado com coisas o mais próximo das europeias que eu vou conseguir encontrar aqui. Eu que não gosto muito de azeite não resisti ao apelo da comida mediterrânea e comprei. Já falta pouco para mandar vir o bacalhau.
A cantina da Universidade é algo que merece ser comentado. Têm comida de imensos países e batidos de fruta fabulosos (tenho é de me abstrair que têm nomes como memory booster, stress booster, fat booster, and so on).
Na quarta fui jantar fora. Fui a um restaurante italiano muito giro, com um ambiente fantástico, pena os empregados falarem mais alto que os clientes e estragarem tudo. Mas não foi muito mau, não foi caro, e lá trouxe o que não comi para casa! Pedir para que nos tragam o troco é que foi um bocado esquisito!

As casas de banho.
Não percebo porque é que esta gente não é capaz de unir as portas das casas de banho públicas à ombreira da porta (não sei se é assim que se chama!); existe sempre um espaço de alguns milímetros. Não é por ai que se sai se ficarmos lá presas dentro. Não percebo a utilidade. Mas há que lhes dar o devido valor por terem daqueles papéis para “forrar” a sanita!

Curiosidades.
- Precisei de comprar um cabo para o meu computador (o adaptador “universal” que tenho não dá para a ficha do meu computador, embora dê para tudo o resto que trouxe). Então, lá fui com uma colega do laboratório à BestBuy uma loja de aparelhos eléctricos. Não tinham o cabo que eu precisava, teria de comprar “the all set” (o que incluía um transformador e que me iria custar $129). Um dos empregados foi até ao armazém e vem de lá com um cabo sem estar embalado, que experimenta no meu computador e, dado que funcionou, dá-me o cabo (that was my best buy, for sure!). Isto nunca aconteceria em Portugal! Antes disso tínhamos ido à Macy’s e quando perguntámos onde era uma determinada secção perguntaram-nos se queríamos uma garrafa de água e deram-nos(!?). Depois da BestBuy fomos ao Trader Joe´s e deram-nos pão, porque já era fim do dia, estavam a fechar, e ninguém ia compra-lo. Também isto não acontece em Portugal. I’m impressed!
- No supermercado os empregados arrumam as nossas compras de forma organizada, isto é, massas num saco, sumos noutro, etc. Gostei.
- Há bandeiras dos USA em muitas casas e autocolantes nos carros. Gostam mesmo do seu país. Também há imensas bandeiras do Snoopy a dizerem welcome?!
- Neste estado não reciclam quase nada. Aqui, para se reciclar, tem de se pagar!?
- Ontem paguei uma coisa com uma nota de $50 e mesmo à minha frente agarraram na nota e colocaram-na contra a luz para ver se era verdadeira. Era!
- Quer o Scott, quer a Amy nunca tinham visto uma pen USB!?

Álcool.
Estava na minha bancada, olhei para o lado e reparei num frasco de vidro com uma etiqueta enorme com um Hazard Warning e pensei, o que é isto? Li o rótulo e era (apenas) etanol 70%! Pois é, aqui não se brinca com o álcool. Noutro dia quando fui sair à noite perguntaram-me se tinha o passaporte para o caso de querer beber alguma bebida – não foi o caso.

Futilidades:
- Achei piada e quase sorri quando o senhor que veio instalar a Internet no meu computador terminava sempre as respostas às minhas questões com “ma’am”: Yes, ma’am; No, ma’am; Thanks, ma’am.

(Au! já apanhei 3 choques no meu computador! Eu sou daquele tipo de pessoas que passa a vida a apanhar choques. Agora estou em Reno, com uma humidade de 30%. Abrir uma porta com fechadura de metal é algo doloroso, apertar a mão a alguém não é melhor.)

Acabei de olhar para as horas no meu computador, são 4:48 em Portugal (o meu computador está com a hora portuguesa), aqui são 8:48 pm. Estou sozinha em casa, a jantar no sofá da sala, com a Sabel (a cadela) deitada à minha frente e o gato ao meu lado.
Estou a ouvir Seal. Gosto muito.

Continuando.

Respostas a algumas perguntas (pertinentes).
Já fui a algum casino? Sim. Joguei? Não. Tenho vontade de voltar a entrar? Not really.Já comi junk food? Nem por isso. O pior sitio onde me levaram foi ao Subway (não, não há metro em Reno) e mesmo assim é muito mais saudável que um McDonald’s ou Burger King (dizia no copo as calorias existentes naquilo que eu estava a comer e faziam a comparação com um BigMac e com qualquer coisa do Burger King e tinha muito menos calorias!).