quinta-feira, dezembro 29, 2005

Colecções

Há quem coleccione selos, canetas, relógios, calendários, eu colecciono frases. Encontrei uma muito boa, pela qual poderia reger a minha vida:

Life is not measured by the breaths we take, but by the moments that take our breath away.

Não sei de quem é, provavelmente de alguém que a seguia à risca e a quem pouco importava que os outros soubessem que a frase era sua.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Post Scriptum

Porque faço muito uso dele, reservo-lhe, hoje, um post! Foi criado para colmatar esquecimentos, mas assumiu vida própria. O PS, nos dias de hoje, deveria ter outro significado. Na era dos e-mails podemos sempre acrescentar texto mesmo depois de assinarmos, não o fazemos propositadamente, porque queremos dizê-lo em PS. Porque Sim. Porque Sei que essa vai ser a última coisa que o outro vai ler, e provavelmente a que vai reter. Fica aqui a tributo ao PS, que uso muitas vezes para dizer as coisas mais importantes e que já me disse tantas coisas que queria “ouvir”!

Tolerância de ponto

Porque ontem foi Natal, resolvi dar-me a mim própria um presente extra e, aproveitando a tolerância de ponto, hoje não fui para o laboratório. Fui à Ericeira. Estava a chover, mas nem mesmo debaixo de uns aguaceiros antipáticos desisti de ver o mar, não um mar qualquer, mas o mar da Ericeira. Conheço-lhe o cheiro, as cores, e as marés, sei onde são os melhores lugares para nadar, os lugares a evitar e não consigo passar muito tempo sem o ver. Desde que nasci que a Ericeira é destino de fim-de-semana e aprendi com o meu avô materno a amá-la (há quem a deteste!). Durante muito tempo disse que iria viver para lá, hoje já não faz parte dos meus planos a curto/médio-prazo, mas um dia talvez acabe os meus dias a ver o pôr-do-sol na praia que me viu crescer.

domingo, dezembro 25, 2005

É Natal

Pois é, mas quase não dei por ele. Sempre fui fã do Natal, quando era pequena participava activamente na decoração da casa dos meus avós, onde costumava passar o Natal. Hoje já não passo lá o Natal e este ano, em particular, nem a árvore de Natal fiz (fez a minha mãe, após muito insistir comigo de que estava na altura de a fazer). Dizem que quando crescemos o Natal deixa de assumir a importância que enquanto crianças lhe damos, talvez seja essa a razão para o desinteresse, talvez não, a verdade é que este foi o Natal menos natalício que já tive. Continuo, no entanto, a gostar de músicas de Natal. Gosto de música, hei-de gostar sempre de músicas de Natal!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Regresso ao “lab”

Foram só três meses fora, mas quase me sinto uma estranha no “meu laboratório”, aquele que vi nascer desde pequenino. Foi bom reencontrar os meus colegas daqui, mas estaria a mentir se dissesse que não sinto falta do meu laboratório emprestado de Reno e dos colegas e da agitação de um laboratório grande. O regresso é mais que certo.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Hoje era o dia oficial da minha chegada. Se ontem só duas ou três pessoas deram pela minha chegada, hoje choveram telefonemas. Ainda que todos me façam as mesmas perguntas, o que me obriga a dizer a mesma coisa muitas vezes, é bom estar de volta.

Ainda me doem os braços!

quinta-feira, dezembro 08, 2005

It’s the little things!


À chegada a casa fui surpreendida com algo que os meus pais preparam para mim enquanto estive fora. Não era um carro novo, ou uma decoração nova no quarto (ainda bem!), era uma coisa muito mais simples, que eu lhes pedia há já uma eternidade: o jardim relvado (por enquanto só metade!). Adoro o verde da relva, o cheiro dela quando cortada e as gotinhas de água a escorregarem pelas folhas após ser regada. Definitely, it’s the little things!

quarta-feira, dezembro 07, 2005

De regresso a casa

Finalmente, o dia de regresso. Havia algum entusiasmo, mas o sentimento de que estava a deixar muito para trás era evidente. O meu primeiro voo era às 6:50am. Pelas 5:30am estava eu e o Scott sentados em cima da minha mala a tentar fechá-la. Depois de tirar algumas coisas, conseguimos! Foram levar-me ao aeroporto e a despedida quase que foi molhada com algumas lágrimas, mas foi selada com um “See you soon”. Fiz o check-in do voo Reno-Salt Lake City e pediram-me que abrisse a mala (a mesma que tinha requerido que eu e um rapaz de mais de um 1,80m nos sentássemos em cima dela para a fechar!) porque algo estava errado! Perguntaram-me se tinha livros na mala, disse que sim, e disseram-me que o alarme toca sempre que são detectadas grandes quantidades de papel. Abri a mala, onde tinha dezenas de tubos com coisas que trazia do laboratório(!). A segurança passou com o detector de metais por entre os livros e disse-me que podia voltar a fechar a mala. Foi fácil! Uff! Entretanto a pessoa que estava ao balcão sugeriu-me que alterasse o meu segundo voo de SLC para NY para mais cedo, para não ter de esperar no aeroporto de SLC um dia inteiro. Alterei. Assim apanharia um avião para NY assim que chegasse a SLC e chegaria a NY às 4:30pm em vez de chegar às 11:30pm. O que era bom, já que tinha deixado para os últimos dias a marcação de um hotel em NY e não tinha conseguido, até ao momento, achar um hotel próximo do aeroporto que me custasse menos de 500 dólares! O meu plano era passar a noite de 7 para 8 num hotel do aeroporto e passar o dia seguinte em NY (o meu voo para Portugal era às 6:30pm do dia 8). Mas sem hotel, cansada e com a possibilidade de apanhar um voo para Portugal ainda no dia 7 (cheguei lá às 4:30 e havia lugares disponíveis no voo desse dia), troquei NY por uma chegada mais cedo a Portugal?! A viagem correu bem, mas não consegui dormir, em parte devido à senhora que se sentou ao meu lado, que passou o tempo a verificar se tinha o cinto bem colocado, para o que tinha sempre que me tocar no braço, e que o apertava mais cada vez que nos pediam que apertássemos os cintos!?
Já em Lisboa deram-me as “boas-vindas” com uma simpática espera de quase 45 minutos pela minha mala, mas que foi compensada pelos abraços quentinhos dos pais e avó que me foram buscar ao aeroporto.

terça-feira, dezembro 06, 2005

I’ll miss you

Na minha última noite em Reno assisti a um filme, que o Scott, a Amy e o Shawn acham muito engraçado, mas ao qual eu não achei piada nenhuma! Também, isso pouco interessava, o que interessava é que estávamos juntos. Despedi-me do Shawn, um amiguinho especial e passei longos minutos a falar com o Scott e a Amy antes de me ir deitar. Disseram-me que a casa ia ficar vazia sem mim. Eu também vou sentir a falta deles.

Snow(&)board(*)

Hoje foi o meu último dia aqui. Ontem o Jeff perguntou-me se eu já tinha feito algo nos USA que nunca tivesse feito noutro sítio qualquer, como beber root beer ou caminhar sobre um lago gelado!? Disse que não. Dois colegas meus “resolveram” que eu não saía de Reno sem esquiar. Pediram ao Jeff para me “raptarem” na terça de tarde para me levarem até um dos muitos resorts de esqui existentes aqui nos arredores. De manhã fiz tudo o que me faltava fazer e pela 1:00pm estávamos todos prontos para subir até NorthStar. Pelas 2:00pm eu e o Shawn chegávamos ao local combinado (o Steve tinha ido até à cabana dos pais, no Lake Tahoe, buscar o equipamento dele). Durante a viagem combinei com o Shawn que iríamos fazer uma aula de esqui. O Shawn pratica snowboard há uns 8 anos, mas nunca esquiou, pelo que seria a nossa primeira vez. Quando lá chegámos a última aula de esqui do dia já tinha começado. Não iríamos poder inscrever-nos. Pedi para esperarmos pelo Steve, que pratica snowboard, mas que esquia desde os 4 anos. Ele podia ensinar-nos, mas como ele não aparecia decidi-me a experimentar snowboard. A primeira dificuldade foi escolher o tamanho da prancha e qual o pé que colocaria à frente. O Shawn fez-me o “push test”; empurrou-me pelas costas e viu qual foi o pé que coloquei à frente. Foi o direito. Escolhi o direito, o que é o mesmo que dizer que sou “goofy”, se tivesse escolhido o esquerdo era “regular”. A segunda dificuldade foi calçar as botas. Botas calçadas e prancha na mão, decidimos não esperar pelo Steve e apanhámos o teleférico até à pista para principiantes (para mim!). Já com a bota direita “presa” à prancha tive a minha primeira lição: como deslizar (é tipo skate, nada de especial) e como parar (lição “muito” importante!). Deslizei até às cadeirinhas que nos levam até ao cimo da pista, sem antes ter o meu primeiro “deslize”. O Shawn disse-me como sair da cadeira, mas eu, tal como todos os outros na minha situação, não “resistimos” a sentir a consistência da neve no cimo da pista assim que lá chegamos. Caí ao descer, mas até não foi muito mau, porque antes de cair ainda esquiei um bocado, de maneira que não cai no caminho da cadeira, ou seja, não fiquei no caminho dos que vinham atrás de nós! Ainda só com uma bota presa à prancha deslizei até ao início da pista, sem mais quedas. Tive mais umas aulas com o Shawn, pratiquei as “travagens”, aprendi, na teoria, como me levantar e… sentei-me, estava na altura de prender a outra bota à prancha. O Shawn tinha-me avisado de que era mesmo estranho estarmos com os dois pés presos a uma tábua, mas não achei muito mau… até tentar levantar-me! É que levantarmo-nos com uma prancha presa aos pés numa superfície inclinada não é fácil, não é nada fácil! Lá consegui manter-me uns segundos em pé, deslizar alguns metros até à minha primeira queda digna de registo. Doeu! O Shawn comentou comigo que daria jeito aos snowboarders usaram fraldas (conseguem imaginar onde é que nos aleijamos?), também me disse para tentar cair para trás apoiando-me nos cotovelos, para evitar magoar-me nos pulsos. A maior parte das vezes caí sobre os pulsos, mas como sei parar bem (haja alguma coisa que saiba fazer bem!), consigo cair de forma mais ou menos elegante (se é que existe algo de elegante em cair!) sem me magoar. Após umas tentativas frustradas para me manter em pé em cima da prancha, comecei a sentir uma dor num tendão do pé direito (costumava-me acontecer isto quando nadava, é um qualquer movimento do pé que o provoca). Fiquei sentada durante uns minutos até me passar. Passou. Voltei a tentar, voltei a cair e começava a ficar com os braços cansados de fazer força para me levantar. Um dos empregados do resort que estava a uns 100 metros de mim, disse-me qualquer coisa, mas não percebi. Veio ter comigo e disse-me que o truque era ficar em “tiptoes”, prendeu-me a prancha com o pé dele, para eu me levantar, o que deu imenso jeito, levantei-me e experimentei o que ele me disse, mas manter a posição “upright” por muito tempo foi algo que não aconteceu, voltei a cair e nesse momento um instrutor de snowboard parava mesmo ao meu lado com a sua aluna. A lição do momento era como se levantar a meio da pista sem escorregar. Fixe! Era mesmo isso que precisava aprender. Sugeriu-lhe que se tentasse levantar de costas para a pista. Eu e ela estávamos de frente, pelo que precisávamos de nos virar de costas. Não é simples quando temos os nossos pés presos a uma prancha com 1,50m. Observei como é que ele lhe disse para fazer e qual o truque para se levantar. Quando se afastaram o Shawn chegou ao pé de mim e ajudou-me a tentar fazer o que eu tinha acabado de aprender. Não gostei muito da sensação de estar de costas para a pista, mas que é mais fácil, é. Mais uns segundos em pé, mais umas quedas e já estava a ficar escuro (as pistas estavam quase a fechar). “Enough is enough” e desisti, fui sentar-me num sitio muito agradável, enquanto esperava que o Shawn chegasse de uma das pistas para… avançados! Ele chegou e fomo-nos embora. Encontrámos o Steve à saída!
Tirando os braços cansados foi mesmo muito bom. Da próxima vez experimento com o pé esquerdo à frente, acho que escolhi mal (como é que podia ter feito algo de jeito se escolhi ser “goofy” em vez de “regular”?! :)

(*) “Snow & board” porque havia neve e uma prancha, mas snowboard, viu-se pouco!

segunda-feira, dezembro 05, 2005

See you soon?

Hoje foi a minha despedida oficial. Fui almoçar com o Jeff e alguns colegas do laboratório. Foi bom sentar-me ao lado do Jeff, melhor ainda, sentir-me ao lado dele. O resultado da conversa ao almoço e da que se seguiu no laboratório resume-se a um pedido muito simples; “Assim que chegares a Portugal começa a tratar do visto para voltares.”. Sei que posso evoluir muito mais na área em que estou a trabalhar agora ao lado dele, mas aqueles que amo, que estão em Portugal, ainda me fazem hesitar na decisão… tomada.

Gingerbread house


Começámos às 10.15pm, acabámos quase às 2:00am. Divertimo-nos imenso ao fazê-la, experimentámos vários designs, acabou por ficar assim. Achamo-la “cute”. O Scott acha-la apetitosa.
A construção da casa não se resumiu a colocar as paredes em pé e a dar-lhe um telhado decorado com peças coloridas, foi o estruturar de uma amizade que fica para sempre (ao contrário da nossa gingerbread house!). A Amy não vai ler isto, mas também não precisa, porque sabe.

As fotos podem estar desfocadas, mas a casa está perfeita e… cheira mesmo bem!

domingo, dezembro 04, 2005

San Diego at a glance









26 de Novembro

Forecast
Embora as previsões meteorológicas não fossem as melhores para quem pretendia atravessar montanhas, combinámos, eu e o Shawn, que ele me iria buscar a casa às 7:00. Chegou atrasado uns 15 minutos (enquanto esperava reparei na neve que tinha caído durante a noite; muita!). Também tinha ficado combinado que passaríamos pelo laboratório para regar umas plantas e vermos as condições meteorológicas. Ele telefonou para um serviço de informação actualizada sobre as condições das estradas. A 395 estava transitável. Confirmei com o Shawn se estava mesmo disposto a “arriscar” não conseguir voltar a Reno (já lhe aconteceu!), se continuasse a nevar no fim-de-semana. Ele disse que sim (eu voltaria de avião). Saímos do laboratório, como entrámos, debaixo de neve, e fizemo-nos, literalmente, à estrada. Em Reno nevava imenso. Informou-me que tinha gorros, luvas, comida e mais uma série de coisas para os dois, caso ficássemos presos algures! Mas não foi o caso. Durante as primeiras milhas nevou, mas depois parou e o dia nasceu absolutamente radiante, com o sol a bilhar num céu azul.

Deserto
A paisagem à saída de Reno e durante muitas, muitas milhas foi a de… Reno! Castanha e não muito interessante de um lado e bonita do outro, com montanhas altas cobertas de neve. À medida que o número de milhas percorridas ia aumentando, a paisagem ia modificando-se e entrávamos no verdadeiro deserto. Não o “deserto típico”, em que só se vê areia, mas o típico desta região. Que é seca, embora por vezes rasgada por um ou outro rio, e coberta por arbustos rasteiros.
Estava sol, não nevava, mas estava imenso vento. Aquela imagem típica dos filmes, quando alguém atravessa o deserto, a de pequenos (ou não!) arbustos a voar, acompanhou-nos durante muitas milhas.

Mono Lake
Estávamos a uma altitude elevada quando nos aproximávamos do local da nossa primeira paragem. Desfazíamos uma curva quando o lago nos apareceu à frente, no vale. Paisagem fantástica! Mono Lake é um lago de água salgada, mais salgada que a do mar, onde se podem observar umas formações constituídas por sais, tufas. Umas milhas depois, após um desvio à 395, e estávamos na margem do lago. Diziam para colocar a mão na água e sentir o quão densa é e para prová-la. Provei. Não ficámos lá muito tempo. Estava muito vento e muito frio. Havia pessoas enroladas em cobertores!

Hot Creek
Continuámos a nossa roadtrip. Deserto e mais deserto, milhas e mais milhas e chegávamos às Hotsprings de Hot Creek. Ficam num vale, por onde corre um rio, cujas águas são aquecidas pelas nascentes de água quente daquela região vulcânica. A actividade vulcânica da região manifesta-se sobre a forma de hotsprings, geysers e fumarolas. Sentia-se o cheiro a enxofre, mas não era muito forte. Estacionámos o carro e voltámos a enfrentar o frio que se fazia sentir lá fora, não que a temperatura estivesse muito baixa, mas estava muito vento. Há medida que íamos descendo até ao vale, o vento fazia-se sentir cada vez menos. As fotos que vi num guia fizeram com que as minhas expectativas para aquele local fossem elevadas. Foi uma decepção. Não achei nada de especial, com excepção da cor das algas que existiam no rio. Ainda que dificilmente alguma vez entrasse na água, como algumas pessoas fizeram, acho que deve ser a melhor coisa que aquele local tem para oferecer. Voltámos para o carro. Próxima paragem: Hot Creek State Fish Hatchery, local onde se faz aquacultura. O Shawn gosta de pescar (fá-lo com um anzol que não magoa os peixes e depois devolve-os ao rio!) por isso parámos lá, mas a época de pesca encerrou, pelo que se limitou a observar!
Mais umas milhas e parámos num restaurante em Lone Pine, o The Mt. Whitney. Tem o nome de uma das maiores montanhas dos USA. Restaurante muito frequentado pelos que vão até esta região para fazer treking e alpinismo. Demorámos tempo demais no almoço. Perdemos tempo. Já não iríamos apanhar a estrada junto à costa, que, segundo ele, a cada curva que se faz/desfaz, deparamo-nos com uma paisagem fantástica, porque ia ficar escuro e não poderíamos usufruir a vista. :( Fica para a próxima.

Perguntei-lhe se estava cansado, ao que me respondeu que adora conduzir e, que, embora não tenha dormido bem, não estava nada cansado. Não ousei perguntar se me deixava conduzir um bocado. Fica, também, para a próxima.

Assistimos a um pôr-do-sol pouco interessante e já bem de noite, mas ainda cedo, talvez às 9:00pm chegámos a San Diego. Agradeci ao Shawn a roadtrip, que não foi tão fantástica quanto isso, mas a culpa não é dele, e ele deixou-me no local combinado com a Sabine, com quem ia ficar o fim-de-semana. Ela vai publicar o artigo que eu queria publicar, mas gosto dela! Uma alemã, “casada” com um alemão, que trabalha no mesmo sítio que ela, na UCSD, num laboratório conceituado. Tinha planeado passar a primeira noite num hotel ao pé da praia, mas a Sabine insistiu que ficasse com ela e acabei por ficar. Tem um apartamento em La Jolla, arredores de San Diego, pequenino, mas muito “cozy”. Ficámos a conversar até quase às 2:00am, sobre trabalho, sobre o laboratório, sobre tudo e sobre nada. Damo-nos mesmo bem, teríamos ficado até à manhã seguinte, mas tínhamos combinado acordar “cedo”, às 9:00, para fazermos uma tour pela cidade.

27 de Novembro

Acordei antes do despertador, entretive-me a ler os títulos dos livros que ela tem, são maioritariamente guias. Ela e o Josef fazem treking e já conhecem os USA praticamente de uma ponta a outra. Atravessaram desertos, subiram montanhas, apanharam uns sustos, mas voltavam a repetir, se calhar com mais um litro de água (já explico).

La Jolla
Disseram-me para dizer a que sítios é que queria ir, que seria lá que iríamos. Assim foi. A primeira paragem foi no Birch Aquarium no Scripps Institution of Oceanography. Queria lá ir pelas medusas e pelos cavalos-marinhos. Valeu a pena pelas medusas, pela vista, mas pelos cavalos-marinhos nem por isso. O Scripps Institution of Oceanography fica situado à beira-mar, num sítio absolutamente fantástico. Na livraria comprei um calendário lindo onde não há criaturas marinhas, mas lá que andam na água andam (o que será?) :) e um livro que explica o que a cor e formato das nuvens representam. Interessante.

O Pacífico
Já eram 12:00 quando saímos do aquário, pelo que decidimos ir almoçar. Perguntaram-me o que é queria comer, respondi em forma de pergunta “O que é que é típico de San Diego?, responderam “Fish tacos”, pelo que foi isso que comi. Fomos a um dos melhores sítios para se comer os ditos. Fomos ao Wahoo’s, um bar de surfistas, muito ao estilo do nosso Peter Café Sport. Não comemos lá, pedimos takeaway e fomos almoçar junto à praia em La Jolla Shores. Desta vez sim, tinha o Pacífico à minha frente. É diferente do Atlântico num pormenor, que é muito provavelmente ilusão de óptica, parece que sobe, que está inclinado para cima… se calhar é só impressão minha! As ondas não estavam muito boas, não havia muitos surfistas, mas havia imensa gente na praia. Estava sol, céu limpo, um dia extraordinário. A Sabine disse que na Alemanha se diz que “When angels are traveling, the weather is good”! :) No dia anterior tinha chovido imenso. Deixei Reno debaixo de neve e trouxe o sol a San Francisco no fim-de-semana passado e a San Diego neste! Continuando. Almocei um fish taco com arroz e feijões, sem picante! Gostei! Após o almoço descemos até à praia, que é igualzinha “à minha praia” na Ericeira, as rochas, as algas castanhas, o cheiro, as ondas. Não é por acaso que ambos os locais são bons spots para a prática de surf (a quem interesse, o melhor spot fica na Pacific Beach)! Experimentei a água, estava boa! Apetecia entrar. Havia quem o fizesse. Fomos até à Children’s Pool, mesmo ao lado. Há uns anos atrás construíram uma barreira para criarem uma zona sem ondas para as crianças, mas os leões-marinhos apoderam-se da zona e agora a praia é só deles. Gostei de os ver.

Mount Soledad e Point Loma
De La Jolla Shores fomos até ao Mount Soledad, de onde se tem uma vista de 360º sobre toda a cidade, vertente mar e vertente terra. Local para as típicas fotos panorâmicas. Vi onde fica o Salk Institute of Biological Studies, e invejei a localização! Do Mount Soledad fomos para Point Loma, que fica na ponta de uma pequena península, para lá chegarmos temos de atravessar território militar, cujos portões fecham às 5:00pm, se alguém ficar do lado de lá, lá fica. De Point Loma vê-se a Mission Bay e os milhares de veleiros que lá estão atracados e a base militar onde foi filmado o Top Gun. É em Point Loma que está uma estátua de João Rodrigues Cabrilho/Juan Rodriguez Cabrillo. Para os portugueses ele era português, para os outros era espanhol. Foi o primeiro navegador europeu a pisar a costa oeste americana. A expedição era espanhola, mas um historiador defende que ele era português. Para mim o João/Juan era português, parece-me muito mais fácil que alguém tenha traduzido o nome para espanhol e criado a confusão do que alguém o ter traduzido para português!
Tinham-me dito que Point Loma era o melhor local para ver o pôr–do-sol, mas como se tem de sair de lá às 5:00, e havia outras coisa para ver, não esperámos.

De lá fomos para o Balboa Park, uma local onde existem vários museus em edifícios construídos para parecem antigos. Para uma europeia que conhece várias cidades onde os edifícios são mesmo antigos (!?) aquilo é, no mínimo, deprimente. Do Balboa Pak fomos para a baixa de San Diego. Uma “baixa” típica, com lojas e restaurantes. Foi aí que assistimos ao pôr-do-sol, foi dos bons, embora o local não fosse o melhor.
Próxima paragem, Old Town. Mais uma vez, de “old” esta zona, só tem meia dúzia de edifícios, se é que tem meia dúzia. É uma zona turística, com restaurantes e lojas mexicanas. Pretende representar a antiga povoação de San Diego. Procurámos um restaurante para jantarmos, mas só havia mexicanos e eu não estava para aí virada. Fomos a um italiano que eles conheciam, Caffé Bella Itália. Muito bom.

Depois de um dia bem preenchido regressámos a casa. Mais uma vez ficámos a falar até tarde. Desta vez, para variar, foram gossips do laboratório e viagens. As que fizemos, as que pretendemos fazer, o que correu bem, o que correu mal. Já tiveram problemas com água no deserto, pouca, e em florestas tropicais, muita. Fiquei a conhecer os materiais que quem faz treking utiliza, contra ventos e tempestades. O que se usa para o frio, para o calor, a roupa interior que seca quase instantaneamente. Sei que um blusão deve ter três camadas (o material é o Gore-Tex), que devem ser “coladas” para que não se desfaça por causa das alças da mochila.

28 de Novembro

De manhã fui até à UCSD, ao laboratório da Sabine, para trocarmos informações sobre o nosso trabalho e eu ver as plantas dela, depois ela foi levar-me ao SeaWorld Adventure Park. De entre os três parques que existem em San Diego, tive de escolher um. Um exclui por ser longe da cidade, e entre o Zoológico e o SeaWorld… sou mais água que terra, e depois, já vi pandas (a grande atracção do Parque Zoológico de San Diego), mas nunca vi orcas, como tal, foi ao SeaWorld que fui. Entrei por volta das 11:00, dei uma vista de olhos pelo mapa, escolhi o horário dos shows a assistir, de forma a conseguir vê-los a todos, e a diversão começou! :) Ficou muito abaixo das minhas expectativas, mas ainda assim foi um dia muito bem passado. Ri-me com o show dos leões-marinhos, com um show que não tem nada da a ver com o SeaWorld, mas que é o máximo, com cães e gatos (Pet’s Rule!); entediei-me na Haunted Lighthouse 4-D; não queria acreditar que o show Dolphin Discovery fosse só aquilo (mil vezes melhor o do Jardim Zoológico de Lisboa, e o do Zoomarine, que recomendo vivamente); gostei do Shamu Adventure. Nunca tinha visto orcas, por isso foi interessante, mas claro que as preferia ver no estado selvagem. São bem giras! Vi mais umas espécies que nunca tinha visto, mas a parte verdadeiramente emocionante ficou para o fim. Sempre fui apaixonada por golfinhos. Por mais banal que isso seja, não me interessa, eles são mesmo queridos e pronto. Estive quase uma hora junto ao tanque de interacção com golfinhos, talvez com 1,20m de altura, onde estão dezenas deles, mesmo ali ao pé de nós. Os treinadores ensinam-nos o gesto para os chamar e depois é só deliciarmo-nos com eles. Por mais que isto não seja natural e se pense que nenhum animal possa ser feliz num sitio assim, eles pareciam-me tão deliciados como eu e, depois, eles já nasceram ali (a propósito, o SeaWorld, tem uma taxa de reprodução, das espécies que aloja, invejável!), e aprendem a tirar partido da interacção com o público, os peixinhos que lhe damos e a atenção. Tenho a certeza que gostam, nenhum animal pode parecer tão bem, como eles parecem, se não estiver realmente bem. Não estou a dizer que não seriam mais “felizes” em mar aberto, mas as coisas são como são, e a realidade deles é aquela. Só saí de lá porque tinha uma avião para apanhar.

Porque nem tudo pode correr bem…
Apanhei um táxi até ao aeroporto de San Diego, que fica no meio da cidade. Coloquem um aeroporto na Avenida da República, em Lisboa, e podem imaginar o estranho que é. Se acham que os aviões em Lisboa já passam muito perto de alguns edifícios, dividam a distância por dez e vão ficar com uma ideia do que acontece em San Diego.
Entrei no terminal da Southwest e fui fazer o check in, estava já a guardar o passaporte e o senhor do balcão tinha acabado de dizer “Thanks Ma’am”, quando me diz “Wait, your flight was canceled”. Quase me ri na cara dele! Limitei-me a um “Why?!”. Problemas de tráfico e técnicos, foi a resposta. Parecem-me problemas em demasia! Anyway. Disse-me que me punha no próximo voo para San José e de lá voaria para Reno. O voo partia em 20 minutos, por isso o senhor do balcão foi comigo até à segurança, passou-me à frente das outras pessoas, e cheguei a tempo à porta de embarque, tive tempo de comprar um mapa que queria e ainda tive de esperar um bom bocado. Chovia imenso em San Jose, a aterragem foi má. Aterrei à mesma hora que devia estar a levantar voo para Reno, sai de um avião e entrei directamente no outro. Mais uma vez a aterragem, em Reno, não foi das boas, mas nada de especial. Ao aterrar pude ver as casas e ruas “brancas de neve” e as luzes de Natal. Cheguei mais cedo do que o previsto, pelo que tive esperar no aeroporto que o Scott acabasse as aulas para me ir buscar.

Gostei mais de San Francisco pela cidade em si, porque é cosmopolita e eu gosto de cidades assim, mas San Diego, tem praias muito giras e um ambiente mais descontraído, que me agrada. Se tivesse de escolher, acho que escolhia San Francisco para morar e San Diego para os fins-de-semana!
Legenda das fotos:
1. Mono Lake
2. Scripps Institution of Oceanography
3. Pôr-do-sol em San Diego
4. Shamu
5. o meu sorriso era igual ao dele :)

Saturday night

Os meus últimos dias têm sido algo preenchidos. Não tenho tempo para mim, para as coisas que ainda tenho que fazer no laboratório, nem para o blog. Mas hoje tinha de escrever qualquer coisa. Porque sim, porque me apetece.
Ontem passei o dia no laboratório. A noite no Zephyr. Um bar pequenino, com uma decoração, no mínimo, original, com pouca luz, muito fumo e música alta. É um daqueles bares onde tocam bandas de garagem, mas já com CDs. Gostei das duas de ontem. Fui lá com pessoas dos laboratórios vizinhos, um deles conhecia o dono e como tal entrámos sem pagar, sem ter de mostrar ID e ainda fomos apresentados aos membros de uma das bandas. Ao mesmo tempo que fui apresentada a uma série de pessoas, também me despedi delas. A maioria era muito simpática, se bem que a palavra certa para os descrever talvez seja cool. Na maioria eram snowboarders e americanos, mas havia um tunisino, um chinês, um francês e uma alemã, a única rapariga para além de mim. Foi a minha festa de despedida não oficial (a oficial, com o PI do meu laboratório, será segunda). Bebi mais do que devia (cerveja Sierra Nevada e Roman Coke, que na verdade se devia chamar jack and coke, porque Roman Coke vem de rum-n-coke, que é, como o nome indica, rum e Coca-Cola, a minha bebida era Jack Daniel’s e Coca-Cola), mas em qualquer momento disse ou fiz algo que não devia, mas deu para perceber que foi demasiado. Ontem não foi um dia fácil.
Em todos os sítios do mundo isto acontece, mas ontem à noite pude perceber e “sentir” o que é que as pessoas querem dizer com: “os americanos saem às sextas e sábados à noite com o objectivo de arranjarem alguém”. Em todos os lados existem as trocas de olhar, o olhar insistentemente para a rapariga para ver se cruzam o olhar, sorrir e depois começar uma conversa. A parte da conversa é importante, não tanto pelo que se diz, mas como se diz. Como há pouca luz e dificilmente nos conseguimos ouvir, o rapaz chama a atenção da rapariga tocando-lhe no braço, costas, ou cintura, depois há que falar ao ouvido, e, por fim, mantê-la junto a ele, agarrando-a na cintura, costas, ou, os mais ousados, no pescoço. Perdi a conta ao número de vezes que me disseram: “So, you’re from Portugal!”! Mas foi divertido. Foi como voltar uns anos atrás no tempo e imaginar-me numa festa de aniversário de uma colega do secundário. Foi engraçado perceber como estou “crescida”, como não me incomoda se um rapaz está a olhar, se me toca mais do que o necessário, se fala colado ao meu ouvido. Um sorriso, um passo para o lado oposto e começar a falar com outra pessoa resolve a situação. Tested and proved.